São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Euforia

Euforia nas Bolsas
Já se sabia que após o lançamento da nova moeda haveria um movimento de alta nas Bolsas de Valores. Entretanto, essa alta vem ultrapassando as expectativas mais otimistas. Só em agosto a valorização de ativos já supera os 20% –num ambiente de inflação quase zero e juros cadentes. Muito tentador.
O movimento altista desta vez nem sequer foi abalado pela elevação em mais meio ponto percentual dos juros dos EUA. Há apenas alguns meses, quando iniciava-se o movimento de alta dos juros internacionais, as Bolsas brasileiras ressentiram-se e chegou-se a suspeitar do fim da era dos mercados emergentes. Mas há razões sólidas para a euforia?
Em parte, sim. As Bolsas afinal funcionam como sensibilíssimo termômetro das expectativas empresariais, por menores e por mais concentradas que sejam as operações em alguns poucos papéis. Mas, quando se vê o movimento dos negócios passar em poucas semanas de uma média diária pouco superior a US$ 100 milhões para cifras na faixa dos US$ 500 milhões, é impossível não reconhecer aí enorme confiança no plano. Aliás confirmada em sondagens junto a empresários e à população em geral.
De outro lado, como em toda euforia há um processo intrínseco e perverso de autoconvencimento. Nesse entusiasmo sem peias, as apostas tornam-se cada vez mais arriscadas e desvinculadas de fundamentos econômicos convincentes. Como nas conhecidas "pirâmides", o sucesso passa a depender integral e exclusivamente da entrada no circuito de novos crédulos.
De fato, embora o plano de estabilização esteja caminhando com razoável sucesso e os resultados das sondagens eleitorais animem os mercados, uma valorização explosiva das ações negociadas em nada poderia corresponder à evolução do lucro e dos dividendos das empresas –fundamento último do valor dos papéis. O cenário mais provável ainda parece apontar para uma expansão apenas moderada das atividades até o final do ano.

Texto Anterior: Os limites da Terra
Próximo Texto: A queda da inflação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.