São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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As eleições e os planos econômicos

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

Três planos contra a inflação foram implantados em anos eleitorais desde 1985, com resultados diversos para os candidatos do governo: o Cruzado (86) resultou numa grande vitória, o Plano Verão (89) foi um fracasso completo e o Plano Collor (90) teve resultados duvidosos.
Os efeitos políticos dos planos guardam estreita correlação com a variação da curva inflacionária: a base governista tende a aumentar se as taxas permanecem baixas até a eleição, e a diminuir no caso contrário. A curto prazo, os choques aumentam a popularidade do governo.
O primeiro plano, o Cruzado (28/2/86), reduziu a inflação de 12,47% em fevereiro para 3,17% no mês seguinte e 0,43% em abril. As taxas se mantiveram baixas até outubro, quando o índice foi de 1,43%. Em novembro, o governo anunciou vários aumentos de preços logo após a eleição (15 de novembro). Mesmo assim, a inflação do mês não ultrapassou 3,29%.
Os resultados eleitorais foram extremamente favoráveis para PMDB e PFL, que formavam a Aliança Democrática. Os dois elegeram todos os governadores naquele ano. O PMDB, sozinho, elegeu 53% dos deputados federais, e o PFL 24% –dando ao governo maioria de 77%. No Senado, a bancada governista somava 81%.
No Plano Verão (15/1/89), porém, editado ainda no governo José Sarney, os resultados foram bastante negativos para o governo. A inflação caiu de 35,48% em janeiro para 5,90% em março, mas voltou a subir no mês seguinte.
Em maio de 89 ela já era de 16,67%. Em junho, a cinco meses da eleição, a taxa atingiu 29,40%. Em novembro, o índice foi de 48,47%.
O presidente Sarney não conseguiu articular um candidato próprio à sucessão. Os presidenciáveis mais ou menos identificados com o governo tiveram votações diminutas: Ulysses Guimarães (PMDB) teve 4,43% dos votos e Aureliano Chaves (PFL), apenas 0,83%.
O Plano Collor não repetiu o êxito do Cruzado, mas também não foi um desastre total. Implantado em 15 de março de 90, ele reduziu o INPC de 82,18% em março a 14,67% em abril, alcançando a taxa de 7,31% em maio.
Apesar de várias medidas polêmicas (como o bloqueio das poupanças), a taxa de aprovação ao plano atingiu 81% em março. No mês seguinte, essa aprovação se reduziu a 71%.
Em maio, começou o descongelamento de preços, e a inflação voltou a subir, chegando a 11,64% em junho. O apoio ao plano despencou: pesquisa realizada nas principais capitais naquele mês mostrou que apenas 31% da população ainda aprovava o Plano Collor. A inflação continuou subindo lentamente até o 1º turno da eleição (chegando a 14,43% em outubro).
Os resultados do pleito para o Legislativo foram desfavoráveis ao governo. Os principais partidos que apoiavam Collor (PFL, PRN e PTB) elegeram 160 deputados, muito menos do que a maioria absoluta (252).
O governo se saiu melhor na eleição para os governos estaduais. O PFL conseguiu fazer nove governadores, o PTB dois, o PTR dois e o PSC um (14 governadores).
A vitória não teve a mesma dimensão da obtida com o Plano Cruzado: o governo perdeu nos maiores Estados (São Paulo, Minas, Rio); os partidos de oposição elegeram 12 governadores.
Em novembro, o desgaste crescente do plano (inflação a 16,92%) beneficiou a oposição: a maioria dos governistas perdeu no 2º turno.
A coluna ERA UMA VEZ é publicada todas as quartas-feiras.

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