São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empreiteiros temem calote e pressionam o governo Fleury

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A 40 dias das eleições para o governo de São Paulo, os empreiteiros temem um calote e pressionam o Estado para receber uma dívida que chega a US$ 2,2 bilhões.
O clima de temor ficou evidente em um encontro que reuniu cerca de 300 empreiteiros na manhã de ontem na Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas).
O medo é que uma possível mudança no comando do governo, no próximo ano, dificulte o recebimento da dívida que foi acumulada nos últimos cinco anos –durante as gestões Quércia (1987-91) e Fleury.
Na última pesquisa Datafolha, realizada no início deste mês, o candidato favorito, Mário Covas (PSDB) tinha 52% das intenções de voto, enquanto o candidato do governo estadual, Barros Munhoz (PMDB), apresentava apenas 8%.
Para evitar um acréscimo na dívida, os empreiteiros decidiram paralisar um conjunto de obras em São Paulo (veja quadro).
Além dessa decisão, pretendem pedir ao governo que não inicie novas concorrências públicas antes de tentar solucionar o problema da dívida.
"Calote"
"O calote pode doer", disse na reunião de ontem o empreiteiro José Luiz Spott, diretor da empresa Ecco. Spott associou as preocupações dos construtores com o calendário eleitoral.
O governo de Luiz Antonio Fleury Filho informou que está disposto a conversar com os empreiteiros, com quem terá audiência na próxima semana.
A Secretaria da Fazenda, órgão responsável pelo pagamento, reconhece que a situação financeira do Estado é difícil, mas promete fazer um estudo detalhado sobre o perfil da sua dívida.
Segundo apurou a Folha, não existem condições de caixa até o final do ano para pagar aos construtores. O problema deve ficar mesmo para o sucessor de Fleury.
Muitos empreiteiros temem que o futuro governador possa fazer, por exemplo, uma revisão da dívida e se negue a pagar contratos fechados durante a campanha eleitoral desse ano.
O candidato Mário Covas já acenou com essa possibilidade, em palestra realizada no mês passado no Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo).
"Escandaloso"
Segundo o presidente da Apeop, José Eduardo Nascimento, independentemente das eleições, o volume da dívida é "escandaloso" e pode resultar em falência de um grande número de pequenas empreiteiras.
Nascimento reconhece que construtores filiados à Apeop, que possui cerca de 500 sócios, estejam aflitos com a negociação com um futuro governo.
"Essa preocupação existe, mas a nossa cobrança para a solução da dívida é antiga, muito antes da campanha eleitoral", disse.
Para Nascimento, essa situação "dramática" de hoje mostra a falência no modelo de financiamento de obras públicas. Ele culpa a falta de planejamento.
Uma das saídas, segundo o presidente da Apeop, seria a união do Estado com as empresas com o objetivo de abrir concessões de serviços públicos para a iniciativa privada.
Os empreiteiros esperam ter uma solução para a dívida num prazo máximo de um mês.

Texto Anterior: Na contramão
Próximo Texto: CUT quer desvincular protesto de eleições
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.