São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
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Quanto tempo dura o real

OZIRES SILVA
Após tantas tentativas e tantos insucessos, embora apoiando o novo plano, o brasileiro comum, ainda cheio de dúvidas, pergunta quanto tempo durará o real?
É inegável a constatação de que a arquitetura do plano foi de excelente concepção e sua execução cuidadosa merece pouco ou nenhum reparo.
A troca nacional da moeda, em 1º de julho, pode ser considerada como impecável e sem precedentes no mundo, muito embora umas pequenas falhas possam ser identificadas.
O problema que afeta o Plano Real parece ser o seu gerenciamento ao longo do tempo, uma vez que seus fundamentos básicos já estão sendo pressionados pelos mesmos parâmetros que, desde há longo tempo, vêm anulando esforços de pessoas e de governos para a estabilização da moeda.
Referindo-se ao déficit público, ao excesso de regulamentação que asfixia a economia e à insuficiente capacidade do Estado em investir no cidadão garantindo-lhe o acesso ao êxito.
O governo tem agido bem no campo financeiro. Há o cuidado de tentar evitar a inflação das emissões monetárias, resultado de orçamentos mal concebidos e pior cumpridos.
A política cambial, pelo menos no começo da vida do plano, embora preocupante no que se refer às exportações, não inspira preocupações inflacionárias. Então, o que pode dar errado?
Do ponto de vista político é, sem dúvida, importante a reforma constitucional, sobretudo para rever o sistema político partidário, o sistema tributário, o capítulo sobre a ordem econômica e outros julgados essenciais.
Do lado técnico ressalta a importância do aumento da eficiência da máquina pública e a simplificação do seu relacionamento com o cidadão e com o setor privado.
Neste ponto, vale a pena lembrar o excelente livro "Reinventando o governo", de David Osborne e Ted Gaebler (Editora MH Contemporânea-Brasília, 1994), onde os autores assinalam a necessidade de que os governos sejam empreendedores, dentro de uma estrutura que encoraje a inovação, como se estivessem num ambiente competitivo.
Esta inovação precisa se estender pela burocracia governamental, buscando em todos os momentos a eficiência.
Não se pode pensar que somente a empresa privada tenha de ser eficiente e capaz de alta produtividade. Também os governos necessitam rever o seu funcionamento e tentar lubrificar os canais decisórios para melhor funcionarem, sem perder os atributos fundamentais exigidos pela sociedade.
A legislação deveria ser redigida de forma mais simples e direta, permitindo aos investidores, aos cidadãos, enfim a todos com quem se relaciona, procedimentos menos complicados e mais diretos para a solução dos seus problemas operacionais e de sua vida nas comunidades.
Enfim, a durabilidade do Plano Real deverá estar diretamente ligada à eficiência governamental, que precisa ser grandemente aumentada.
Em linguagem direta, o custo operacional do governo está demasiadamente alto, onerando em demasia o contribuinte, retirando-lhe das mãos uma importante margem de poupança capaz de gerar mais oportunidades e mais empregos, que tanto precisamos.
Por outro lado, embora o real tenha sido criação do Executivo e aprovado pelo Congresso Nacional, hoje ele é a moeda nacional e pertence a todos.
Assim, nenhum segmento da sociedade pode ignorá-lo ou deixar de dar sua contribuição.
A população, com toda a clareza, está indicando que apóia a estabilização. Vamos todos, então, tentar conservá-la, rejeitando tudo aquilo que pode ameaçá-la.

OZIRES SILVA, 62, coronel da reserva da Aeronáutica, é diretor-superintendente da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronática). Foi presidente da Petrobrás (1986-88) e ministro da Infra-estrutura (governo Collor).

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