São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Melhores lembranças não estão à venda

ANDRÉA DANTAS
DA ENVIADA ESPECIAL AO JAPÃO

Modernidades à parte, o melhor do Japão não está à venda. Perceber quando um japonês diz "sim" significando "não", compreender um sorriso que não movimenta os lábios e esvaziar a mente em uma sessão de meditação zen são lembranças muito mais preciosas do que qualquer walkman high tech.
Um mês de estudos e convivência com uma família na antiga cidade de Kanazawa exige jogo de cintura. Mas trata-se de "suvenir" para a vida inteira.
É preciso encarar o Japão não só com os olhos, mas com o espírito. Em seu livro "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas", Robert Pirsig diz que "o Buda mora tão confortavelmente nos circuitos de um computador digital quanto numa montanha. Pensar diferente é aviltar o Buda e a si mesmo".
Os japoneses sabem disso. Preservam tradições milenares, esquisitices à vista ocidental, enquanto desenvolvem tecnologias de fazer inveja ao planeta. Delicados, querem que o visitante se sinta em casa, mas cobram sua participação no jeito japonês de ser e de viver.
Dá-lhe "futon" (acolchoado para dormir), doce de feijão, banho de ofurô ou caneca, peixe cru e macarrão frio pela manhã, chá amargo, banho somente à noite.
Que não se anda de sapatos pela casa todo mundo sabe. Mas é preciso aprender os outros "rituais". Não se pisa de meias onde se tira os sapatos, não se anda de chinelos sobre tatames, não se entra com seus chinelos no banheiro. Nele, calça-se outro par, "coletivo", com o qual jamais se ultrapassa os limites do aposento.
Uma gafe destas faz você se sentir um Jerry Lewis nato, tamanha as gargalhadas de seus anfitriões. Ou, muito pior para um "gaijin" constrangido, será um olhar e silêncio desconcertantes.
Banheiro no Japão, é bom saber, nem sempre conta com vasos sanitários tal qual os que conhecemos. O mais comum é que sejam "embutidos" no chão (exigindo posição de cócoras).
Privadas high tech , com painel de controle, garantem o vexame dos curiosos. Nenhum dos botões é a descarga, descoberta que só é feita após um banho de seu chuveirinho (confira no Eurocentres).
As descobertas fazem o dia-a- dia: as vielas, as antigas casas de gueixas e samurais, o parque Kenrokuen, o castelo de Kanazawa. O sentido, enfim, de um dos milhares de ideogramas.

Texto Anterior: Saiba quanto custa estudar no Japão
Próximo Texto: Conhecer costumes evita gafes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.