São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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Exercício e saúde

MARCOS SANTOS FERREIRA

A existência de uma relação entre exercício físico e saúde está presente no saber popular, em expressões como "fazer exercícios faz bem à saúde" e "quem faz exercícios tem uma vida saudável".
De fato, as pessoas parecem aceitar que à melhoria da condição física com o exercício segue-se compulsoriamente a aquisição de saúde. Mas será real este pressuposto? Será direta a relação entre prática de exercícios e aquisição de saúde? Alguns argumentos demonstram a impropriedade de se admitir causalidade nesta relação.
Com efeito, pode-se alegar que ao desenvolvimento da condição física através do exercício não corresponde necessariamente uma melhoria do status de saúde, já que o indivíduo pode ter em desenvolvimento um processo mórbido qualquer e já que nem todas as repercussões do exercício são benéficas à saúde.
Na verdade, limitar a saúde à condição física traduz-se num reducionismo. Sugerir uma relação de causalidade entre condição física e saúde –em que ser fisicamente ativo significa ser saudável– é contribuir para a "culpabilização da vítima", pois insinua que a obtenção da saúde passa predominantemente por mudanças no comportamento individual e renega, portanto, seu caráter coletivo, social.
Assim, procurando entender a saúde num contexto mais amplo, devem ser consideradas condições como as de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, lazer e liberdade, entre outras.
Sem negar a influência benéfica da prática regular de exercícios para a saúde, pretende-se desvelar a impossibilidade desse único aspecto abarcar todas as inúmeras variáveis que envolvem a questão. Trata-se, portanto, de levar o debate para além dos limites meramente biológicos da relação exercício-saúde.
A escassez de espaços públicos para a prática de exercícios, principalmente nos subúrbios e adjacências, por exemplo, é um óbice do engajamento da população nesta prática. A poluição urbana, especialmente do ar e do mar, também dificulta a prática regular de exercícios pela população, pois limita ainda mais os parcos espaços já existentes.
Outro fator a ser considerado diz respeito ao pouco tempo de que dispõe a grande massa trabalhadora para se envolver em atividades físicas. Todos esses fatores têm raízes políticas, econômicas e sociais e devem, portanto, ser considerados para que se amplie o entendimento do binômio exercício-saúde.

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