São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Para cada índice, uma inflação

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Índices de inflação medem preços passados para corrigir preços futuros. Tome-se o caso do IPC-r, que registra inflação de 5,46% para agosto. Ele ainda considera preços de junho e vai corrigir salários de setembro, que serão pagos em outubro.
Razões práticas determinam o uso desses índices. Entre o encerramento da coleta de preços e o número final, há muitos cálculos. Para o índice estar pronto no dia 1º, a coleta termina no dia 15 do mês anterior.
A técnica é comparar a média de preços de um período (dia 16 de um mês a 15 do seguinte, no caso do IPC-r) com a média do período imediatamente anterior.
Outro sistema é o chamado ponta-a-ponta. Por aí, a inflação de agosto seria medida comparando-se os preços em 31 desse mês com os do dia 1º. A conta só estaria concluída entre 10 e 15 de setembro, e não seria boa.
Imagine-se que tenha ocorrido alta muito forte no dia 1º, e muitas promoções no dia 31. Daria uma deflação enorme.
Em relação ao ponta-a-ponta, o sistema das médias é melhor. Mas nenhum mede a inflação corrente.
Esta aparece quando se compara preços de uma semana para outra. Mas para que isso possa ser feito rapidamente, só dá para pesquisar alguns preços. São os índices, por exemplo, da cesta básica.
Esses índices registraram queda de preços desde julho e, mais recentemente, indicam estabilidade, com altas em alguns produtos.
Há, portanto, índices registrando desde quedas de preços de 2% até altas de 5,5%.
Cada um pega um flagrante da realidade, num determinado momento. Mas no geral, está claro que os preços caíram desde julho.
Se estivessem subindo 12% nos dois últimos meses, como indica o IPC-r, e estando os salários estáveis, não teria havido o forte crescimento do consumo.
Além disso, a taxa de juros é inferior a 5% mensais. Ora, se a inflação fosse de 5%, os juros seriam negativos e todos estariam trocando aplicações financeiras por dólar e ouro. Mas as pessoas continuam no mercado financeiro, achando os juros bons.
Assim, a correção dos salários a 12% é um ganho neste momento. Mas em outubro, quando estarão sendo gastos esses 12%, o ganho será o mesmo?
Ou seja, o país está com regras de regime inflacionário para um período quase sem inflação. É o grande problema da administração do Plano Real.

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