São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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"Estivemos perto da morte por três vezes"

MARIO CESAR CARVALHO
DO ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Estivemos perto da morte por três vezes"
Leia a seguir o depoimento do professor de inglês Osvaldo Alvarez, 22, sobre os momentos mais dramáticos que os sete cubanos passaram no mar:
"Estivemos perto da morte por três vezes. Na primeira, os dez litros de óleo diesel que levamos para afugentar os tubarões começaram a vazar e furaram duas câmeras da balsa. Jogamos fora o óleo, o açúcar e até roupa para eliminar peso. Começamos a voltar para Cuba, mas percebemos que não havia mais perigo e seguimos em frente.
A segunda vez aconteceu à noite, perto das 23h. Decidimos dormir, estávamos exaustos de remar, todo mundo estava mareado, vomitávamos muito e deixamos a balsa à deriva. Acordamos às 4h da manhã com um barulho muito forte. Estávamos a cerca de mil metros de um recife. Se caíssemos lá, seria morte certa. Conseguimos remar forte e escapamos.
Logo depois, encontramos mais duas balsas e numa delas havia uma mulher grávida. Eles estavam numa situação mais grave do que a nossa: não tinham comida e suas balsas não tinham velas.
Eram do mesmo lugar que a gente –Pinar del Rio. Demos comida à mulher grávida e rebocamos as duas balsas com uma corda. O problema é que aí foi a nossa balsa que começou a se desmanchar. Decidimos nos separar. Demos comida para todos e uma colcha para que fizessem uma vela. Não sei o destino deles.
Na terceira vez em que quase morremos foi um problema com o sinalizador. Tínhamos quatro sinalizadores. O primeiro falhou. O segundo funcionou mas nenhum barco americano veio nos resgatar. O terceiro caiu no mar. O quarto sinalizador explodiu na balsa em vez de subir e começou um princípio de incêndio.
Hugo apagou o fogo com o remo. No dia seguinte, 19 de agosto, entre 7h e 8h da manhã, os marinheiros do Merida nos salvaram. Devemos a eles as nossas vidas".

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