São Paulo, sábado, 3 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Máquina de moer PT

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Em contato ontem com esta coluna, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, admitiu: "Fiz uma tolice". Em sua casa, ele amargava arrependimento por travar conversa informal com um repórter da TV Globo, captada inadvertidamente por antenas parabólicas –o canal de satélite estava aberto, preparando para a entrevista. "Tolice", no caso, significa excesso de sinceridade.
Na conversa informal, ele, em essência, indicou a vinculação entre o governo, o Plano Real e a candidatura Fernando Henrique Cardoso. Mais: indicou que seu empenho em explicar e defender o plano resultava também em melhoria nas pesquisas do candidato tucano.
Suas frases mostraram um ministro convencido de que, nesse esquema para eleger um candidato, estaria a TV Globo –uma acusação feita frequentemente por Luiz Inácio Lula da Silva. Por esse motivo, anteontem à noite, o "Jornal da Globo", sem maiores explicações, informou que a emissora não tinha candidato.
A inconfidência via satélite revela quatro fatos óbvios. Obviedade nº 1: promover o real serve para promover um candidato. Nº 2: está escancarado que o presidente Itamar Franco tem um candidato e quer ajudá-lo.
Nº 3: o Ministério da Fazenda vê em Fernando Henrique a garantia de continuidade do plano; Lula representaria o risco. Nº 4: intencional ou não, o otimismo que exala da cobertura de telejornais sobre o real tem consequências na campanha.
Risível o presidente Itamar Franco afirmar que a máquina se mantém isenta. Não menos risível é Fernando Henrique sustentar que a imprensa está "buscando chifre em cabeça de cavalo".
A verdade: está em operação uma máquina de moer PT. Uma máquina que tem como peças governo, oligarquias políticas, o poder econômico, azeitada pela simpatia de veículos de comunicação.
Mas também existe aí uma dose de exaltação de Lula. Por mais que a imprensa tente, não conseguiria alardear as maravilhas de um plano que está afundando, com preços em disparada nas gândolas.
É verdade também que Fernando Henrique aceitou o Ministério da Fazenda num momento difícil e realizou um plano que, até aqui, baixou a inflação. Da mesma forma que ele fatura com o sucesso, vai sofrer com seu fracasso.

Texto Anterior: SEM MEIAS-PALAVRAS
Próximo Texto: Crime e confissão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.