São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Advogado faz cruzada para salvar o Taj Mahal

TIM MCGIRK

O Taj Mahal fica a pouca distância da capital indiana, mas o advogado M.C. Mehta, de Nova Déli, só havia visto o monumento mongol uma vez antes de começar sua cruzada pelos tribunais, na tentativa de salvá-lo.
A sétima maravilha do mundo, que há quase 350 anos vem sobrevivendo a guerras, terremotos e a um louco projeto de vender pedaços seus para jardins ingleses, está sucumbindo diante da chuva ácida.
A poluição de 1.500 fábricas e uma refinaria de petróleo provocou no monumento o que cientistas chamam de "câncer do mármore".
O Taj Mahal está amarelado, como dentes de fumantes. O mármore branquíssimo trazido do Rajastão está manchado, esmaecido e descamando. Os belíssimos entalhes incrustados, danificados por turistas loucos por suvenires.
Há dez anos, Mehta, de barba grisalha e repleto de energia, veste sua toga de advogado todas as sextas-feiras e sai para lutar em prol do Taj Mahal na Suprema Corte.
Ele está tentando convencê-la a fechar ou mudar para outro local as muitas fundições de ferro, fábricas de vidro e autopeças e a refinaria de petróleo que cercam o túmulo mongol de fumaça sulfúrica.
Mehta apresenta uma lista de citações de celebridades que visitaram o Taj Mahal, entre os quais o rei Edward e Eleanor Roosevelt.
A mais sucinta foi proferida por Shah Jehan, o imperador que mandou construir o mausoléu para nele enterrar sua esposa favorita, Mumtaz Mahal, que morreu em 1631 ao dar à luz seu 14º filho: "O construtor não pode haver sido deste mundo, pois é evidente que o projeto lhe chegou do paraíso".
Mais de 20 mil trabalhadores participaram da construção do Taj Mahal, que levou 22 anos. Dizem que o imperador ficou tão satisfeito com a obra-prima que mandou decepar a mão do chefe de obras, para que ele jamais pudesse construir uma réplica.
A pedido de Mehta, a Suprema Corte mandou o Ministério do Meio Ambiente plantar 36 mil árvores, formando um cinturão verde em volta do mausoléu.
Ele está circulando abaixo-assinado pelo mundo para obter 1 milhão de assinaturas, para levar o governo a fechar indústrias que ameaçam o monumento.
Mehta e muitos ecologistas indianos tentam obter a criação de uma área de mais de 15 mil km2 da qual ficariam excluídas todas as indústrias poluentes pesadas.
Para opositores, o fechamento de olarias, fundições e da refinaria petrolífera de Mathura deixaria 100 mil operários desempregados.
Mehta diz que os governos central e estaduais devem transferir as indústrias para outros locais, se quiserem salvar o Taj Mahal.
As emissões de dióxido sulfúrico na região do Taj Mahal atingem duas vezes o permissível. A refinaria joga uma tonelada de dióxido sulfúrico nocivo no ar a cada hora.
Os piores danos são vistos no interior da cripta, onde os túmulos de Shah Jehan e Mumtaz Mahal estão lado a lado, incrustados de pedras semipreciosas.
Muitos dos 25 mil turistas que visitam o monumento diariamente esfregam suas mãos sujas sobre as flores entalhadas no túmulo.
Do orçamento anual do Serviço Arqueológico da Índia –destinado à manutenção de 3.000 monumentos– apenas 0,2% são gastos no Taj Mahal, o mais conhecido.
"Colocam trabalhadores não-qualificados tentando limpar com escovas de dentes", diz.
Tradução de Clara Allain

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