São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Livro defende elitismo nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Defender o elitismo nos EUA pode ser uma das maiores ofensas à regra do politicamente correto e até sinal de preconceito contra as minorias no país.
Mas o livro"Em Defesa do Elitismo" (Doubleday, 212 págs., US$ 20), de William A. Henry 3º, não apenas defende as chamadas "elites inteligentes" como critica ferozmente a busca do igualitarismo na sociedade americana.
Desde o seu lançamento, no final de agosto, o livro tornou-se objeto de polêmicas.
A tese de Henry 3º, crítico vencedor do Prêmio Pulitzer, é construída sobre as idiossincrasias e contradições facilmente encontradas na atual sociedade americana.
Ele tenta mostrar que a crença no igualitarismo é equivocada e que muitas das noções "exageradas e sedutoras" da democracia estão erradas.
Segundo o autor, a sociedade adotou como regra a "não confirmada" noção de que todos os seus membros são iguais, que o "auto-regozijo" é mais importante do que conquistas objetivas e que o homem comum está sempre certo.
Os sistemas de proteção a minorias e a filosofia da igualdade também estariam criando uma sociedade mais preocupada em "escorar e dar suporte aos perdedores do que encorajar os vencedores".
Logo no primeiro capítulo, chamado "A Mentira Vital", o autor já defende tenazmente o elitismo: "O tipo de elitista que admiro é aquele que encoraja a inteligência e que acredita que a competição –mesmo com doses de fracasso– fará mais bem ao caráter de um povo do que a melhor das proteções", escreve.
"O elitismo não visa promover a inveja ou aumentar o número de perdedores na sociedade, mas proporcionar recompensas para os vencedores e para idéias que construíram os progressos no passado e que podem pavimentar o futuro".
Henry 3º vai além e desce a detalhes. Afirma, por exemplo, que medidas como a "affirmative action" (ação afirmativa, que obriga escolas e empresas a empregarem compulsoriamente negros nos EUA) chegou ao ponto de inverter seus objetivos.
Como os negros têm espaço garantido em locais de trabalho e universidades (através de quotas no total de vagas), muitos estariam sendo considerados "cafés com leite" perante a sociedade e inferiores pelos seus colegas –já que não foram obrigados a passar pelos mesmos testes e desafios para conquistar a posição que detêm.
Henry 3º defende uma "cultura e inteligência superiores" como melhor saída para formar uma sociedade. Através delas, a liberdade seria conquistada, a vida seria confortável, os princípios humanos considerados e a sociedade conquistaria sua auto-hierarquia.
Um dos erros que o autor parece cometer é não comentar amplamente como, por exemplo, as minorias nos EUA (principalmente negros e hispânicos) eram discriminadas e rudemente tratadas há menos de 30 anos. Dificilmente os preconceitos locais teriam diminuído tão rapidamente sem as "escoras" criticadas pelo autor.

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