São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Andar alto duplica chance de aborto

PETER HADFIELD
DA "NEW SCIENTIST"

Uma pesquisa feita no Japão concluiu que as mulheres que vivem nos últimos andares de edifícios altos têm duas vezes mais probabilidades de sofrerem abortos espontâneos que suas vizinhas que vivem em andares mais baixos.
A pesquisa eliminou outros fatores de risco, como cigarro, álcool e a baixa renda, e concluiu que as mulheres que vivem acima do quinto andar têm uma chance em cinco de sofrerem um aborto.
O estudo, feito com 461 mulheres casadas jovens residentes em altos edifícios, mostrou que 10% já sofreram abortos espontâneos.
Quando os números foram decompostos por andar, descobriu-se que 20% das mulheres que moram no quinto andar ou em andar mais alto haviam sofrido abortos, contra apenas 8,8% das que vivem no segundo, terceiro e quarto andares e 6% das que vivem no primeiro andar ou no térreo.
"Ficamos surpresos", diz Fumio Osaka, da Universidade Tokai, que conduziu a pesquisa.
"Os resultados não se deveram ao consumo excessivo de cigarros ou bebidas alcoólicas. Acho que a verdadeira razão é que as mulheres que moram nos andares superiores não saem de casa com tanta frequência quanto as outras, porque dá mais trabalho. Isso leva à falta de exercício e ao aumento do estresse".
A maioria dos casais urbanos jovens no Japão vive em apartamentos. Mas as mães japonesas têm acesso fácil a atendimento médico subsidiado pelo governo, de modo que a falta de cuidados médicos não parece ser fator de risco.
"Os apartamentos japoneses costumam ser pequenos e apertados", diz Osaka. "Isso pode causar altos níveis de estresse se as grávidas jovens passam o dia fechadas em casa, sem poder ou sem querer sair".
O estudo cita o caso de uma mulher de 36 anos que sofreu um aborto espontâneo há quatro anos, dois anos depois de mudar-se para um apartamento no nono andar. No ano seguinte ela teve outro aborto espontâneo.
"Dá trabalho demais sair de casa", disse ela aos pesquisadores. "Meu apartamento é pequeno e suponho que os abortos possam ter sido causados pelo estresse".
Existem 70 mil edifícios altos no Japão, com 3 milhões de apartamentos. Há dois anos, o Ministério japonês da Construção foi alertado para o possível vínculo entre morar em andares elevados e a ocorrência de abortos espontâneos.
Um comitê criado para investigar a hipótese concluiu que não havia ligação entre as duas coisas, e reportou no ano passado que "não podemos afirmar que os altos edifícios criem condições desfavoráveis" para grávidas.
Fumio Osaka discorda do comitê e está agora conduzindo uma pesquisa muito maior, com mil mulheres. Os resultados serão publicados no próximo ano. "Os resultados preliminares estão mostrando a mesma tendência da última pesquisa", diz ele.

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