São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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A espantosa queda de Lula nas pesquisas ;Terno e gravata ;Moderação

DOMINIQUE DHOMBRES
DO "LE MONDE"

A espantosa queda de Lula nas pesquisas
A queda de Lula nas sondagens no decorrer deste verão é um acontecimento espantoso para o qual me parece que nenhuma explicação satisfatória foi oferecida até agora.
O aumento do número de indecisos também constitui paradoxo, num momento em que a campanha na televisão já começou há algum tempo.
Normalmente, em qualquer eleição, a taxa de indecisos se reduz à medida que a eleição se aproxima, e não o inverso.
Talvez seja preciso buscar a explicação na seguinte cifra oferecida pela Vox Populi: 21% dos entrevistados rejeitam Lula totalmente (qualificando-o como "o pior candidato de todos"), enquanto a proporção é de apenas 5% no caso de Fernando Henrique Cardoso.
O líder do PT tem o triste privilégio de ter a maior taxa de rejeição.
Terno e gravata
Seria interessante saber quem são aqueles que têm uma impressão tão má de Lula. Será que pertencem às camadas mais favorecidas da população, ou tratar-se-ia de antigos partidários do líder do PT, decepcionados com a atual moderação de seu chefe?
Teria o fato de vestir terno e gravata, de falar em voz pausada, em suma, de adotar uma aparência presidencial, prejudicado a imagem de Lula, fazendo com que ele perdesse votos entre seus antigos partidários, mas sem levá-lo a conquistar novos votos em camadas que até então não havia atingido?
Os índices muito diferentes de rejeição dos quais se "beneficiam" os dois principais candidatos apenas significariam, talvez, que aos olhos de muitos brasileiros é "normal" que um antigo professor universitário que já ocupou cargos muito importantes no governo se candidate ao cargo mais alto do Estado, enquanto essa ambição seria inaceitável da parte de um antigo operário metalúrgico.
Moderação
O outro fator que chama minha atenção, a um mês da eleição, é o tom relativamente moderado da campanha.
Não assistimos aos ataques pessoais, fazendo referência à vida privada dos dois principais candidatos ou a seu passado, que eram vistos em certos setores como inevitáveis.
Recordo que no ano passado, em Paris, pessoas próximas a Lula falaram de suas inquietudes a esse respeito com seus amigos socialistas franceses. É verdade que ainda há tempo suficiente para esse gênero de deslize.
Uma última observação. Tanto Fernando Henrique Cardoso quanto Lula escolheram posições moderadas e não se lançaram em debates ideológicos.
O primeiro afirma que o Estado tem o dever de intervir nas questões sociais, e que o mercado não pode resolver o problema dos bolsões de pobreza.
O segundo não parte em guerra contra o capital e se abstém de exigir a moratória unilateral da dívida externa que teria podido assustar os investidores estrangeiros.
No fundo, cada um deles escolheu uma posição mediana no interior de seu próprio campo.

Tradução de Clara Allain

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