São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Abatido, Ricupero faz um 'mea culpa'

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero fez um "mea culpa" público ontem ao explicar as declarações feitas por ele na quinta-feira à noite à Rede Globo.
Em conversa com o jornalista Carlos Monforte, captada por antenas parabólicas, Ricupero admitiu não ter "escrúpulos" de esconder os índices de inflação.
"Assumo inteira responsabilidade por aquele momento de fraqueza que me levou a dizer palavras que não refletem o que penso ou o que sinto", afirmou ontem.
Ricupero convocou os jornalistas para o desabafo no auditório do Ministério da Fazenda.
Circunspecto e abatido, Ricupero disse que ele próprio não se reconheceu em alguns dos comentários feitos durante a gravação, captada por antenas parabólicas. Disse que a excessiva exposição à mídia inflou sua vaidade.
"Sem querer justificar o injustificável, repudio os trechos da conversa em que deixo transparecer uma opinião vaidosa e arrogante sobre mim e sobre o meu trabalho à frente do Ministério da Fazenda", disse Ricupero.
Argumentando que é um "ser humano como qualquer outro, com as mesmas limitações e defeitos", o ex-ministro da Fazenda pediu desculpas pelos comentários.
Ele também se desculpou pela referência feita aos empresários durante a gravação, em que dizia serem todos "bandidos". Ricupero disse ter generalizado "comportamentos individuais que já havia condenado".
Ele defendeu, porém, sua atuação no governo. "Estou seguro de que, na minha gestão, não fiz nada de errado", afirmou.
Disse que, ao declarar que não tinha escrúpulos em mostrar o que é bom e esconder o que é ruim, estava se referindo à conveniência de divulgar, a cada semana, o IPC-r.
"Contrariamente a uma visão técnica, não hesitaria em divulgar os índices semanais se isto servisse ao propósito de manter a tendência de baixa dos preços", afirmou.
Ele disse que tinha "plena convicção" de que, caso não mostrasse a tendência declinante da inflação, estaria dando munição para aumentos preventivos de preços.
Ricupero disse ter compreendido que a frase em que usou a palavra "escrúpulo" causou surpresa e consternação, mas ressaltou que não mentiu ou escondeu informações à população.
"Em nenhum momento manipulei ou deixei que manipulassem índices de preço", afirmou Ricupero, que admitiu presunção ao dizer que o governo precisa mais dele do que ele do governo.
Disse ainda que seus comentários sobre os efeitos do Plano Real nas eleições e sobre a cobertura do plano pelos meios de comunicação não foram mais do que "impressões superficiais".
Calmantes
Romeu Ricupero, irmão do ministro demitido, disse ontem, em São Paulo, que falou no sábado com o ex-ministro e que ele estava Segundo Romeu, Ricupero deve estar sob efeito de calmantes.
Romeu, diretor adjunto do departamento do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda em São Paulo, Hoje pela manhã, o irmão do ex-ministro disse que vai pedir a exoneração do cargo que ocupava desde o final de abril.
'Sem mentir'

Quando Ricupero assumiu, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto disse: "Como admirador de São Tomás de Aquino, Ricupero terá enormes dificuldades para mentir", disse.
Ricupero gozava de prestígio junto ao empresariado. Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) destacou a "confiança" que ele inspirava no empresariado no dia em que Ricupero assumiu, em 5 de abril.
Diplomata de carreira, Ricupero, 56 anos, serviu ao Itamaraty por mais de 20 anos no exterior, tendo sido embaixador em Washington por mais de dois anos.
Antes de chegar à Fazenda, Ricupero foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal.

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