São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Tucanos controlam economia sem intermediários

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A nomeação para o Ministério da Fazenda do governador Ciro Gomes, uma das mais importantes lideranças tucanas, indica que o PSDB partiu para o ataque. Fica claro que o partido de FHC comanda a política econômica, e o real, sem intermediários.
Essa avaliação foi ouvida ontem em meios econômicos e políticos, inclusive entre assessores da campanha de Fernando Henrique Cardoso. O PSDB refaz sua aposta no real e coloca mais fichas no jogo.
A alternativa mais esperada para a substituição de Rubens Ricupero era técnica: a designação para o ministério de um economista ou um nome neutro, já que o Plano Real está justamente sob acusação de ser apenas um instrumento da campanha de FHC.
Essa acusação vem desde o lançamento da candidatura de FHC. Mas ganhou força imensa quando o próprio Rubens Ricupero, na desastrada conversa com o jornalista Carlos Monforte, se qualificou como o grande eleitor do tucano.
Um técnico como ministro da Fazenda seria, assim, uma tentativa de distanciar o Plano Real da candidatura tucana. Seria também uma solução mais fácil, praticamente sem riscos.
A solução Ciro Gomes, ao contrário, é de alto risco para o PSDB. Os tucanos estão apostando na inflação perto de zero e em sua capacidade de convencer os eleitores de que o Plano Real é bom para o país.
Ou seja, à acusação de que o plano é cabo eleitoral de FHC, o PSDB responde assumindo propriedade do real e pedindo votos para manter e prosseguir com o programa de estabilização.
Os tucanos acreditam que a população apreciou tanto a vida sem inflação que tende a rejeitar quem de algum modo seja ou pareça ser contra o plano.
Como já indicam declarações de FHC, a estratégia tucana é tentar mostrar que o PT, ao explorar o episódio Ricupero, torce contra a estabilidade.
Rubens Ricupero, na conversa que vazou pelas parabólicas, disse que às vezes atacava o PSDB para aparentar neutralidade, já que todos seus assessores eram tucanos.
Pois agora o novo ministro também é tucano, assim como o ministro do Planejamento, Beni Veras, senador do PSDB, eleito junto com Ciro Gomes quatro anos atrás.
Político
Entre membros da equipe econômica consultados ontem pela Folha, a escolha de Ciro Gomes foi bem recebida, especialmente porque o governador conhece e apóia o Plano Real.
Entre economistas, dentro e fora do governo, vai se firmando a tese de que o ministro da Fazenda deve ser mesmo um político.
Segundo o ex-ministro Mailson da Nóbrega, é preciso ter uma boa equipe no Banco Central e um grupo formulador na Fazenda. Ao ministro cabe intermediar a política econômica com a sociedade.
Nesse aspecto, a designação de Ciro Gomes passou bem. Ele tem prestígio de bom administrador, é respeitado em meios políticos e empresariais, além de ser um comunicador competente.
A reação do mercado econômico já se saberá hoje. A dos eleitores, na próxima pesquisa.

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