São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Casamentos criam 'cidade dos anões'

EUGÊNIO NASCIMENTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITABAIANINHA

Os sucessivos casamentos entre parentes consanguíneos gerou no município de Itabaianinha (a 106 km de Aracaju-SE) a maior população de anões do país, formada por 123 pessoas.
A informação é da médica endocrinologista e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Carmela Ferrari.
No final de julho, ela coletou sangue em Itabaianinha e examinou as amostras em São Paulo para comprovar as causas da formação da comunidade de anões na cidade.
Em sua maioria, os anões são originários do povoado de Carretéis, pertencente a Itabaianinha e distante 8 quilômetros da sede do município.
O isolamento dos moradores de Carretéis teria induzido a casamentos entre os próprios parentes, o que produziu cinco gerações de pessoas cujos tamanhos variam de 95 centímetros a 1,35 metro.
"Antes mesmo de realizar os exames, eu já tinha a suspeita, com base em depoimentos de vários deles, que disseram que seus pais eram primos carnais. Agora, os resultados comprovaram", disse Carmela Ferrari.
Ela se interessou pelo assunto e resolveu pesquisá-lo após tomar conhecimento da existência dos anões em reportagens publicadas na imprensa brasileira.
Segundo a médica, os anões de Itabaianinha têm baixas quantidades de hormônio do crescimento em consequência da própria origem genética.
"A hipófise (glândula situada no crânio) não produz o hormônio em quantidade suficiente para o desenvolvimento normal", afirmou.
Carmela Ferrari disse que examinou o sangue de 25 anões e detectou casos em uma mesma família de pessoas com desenvolvimento normal.
"Isso acontece porque o gen anão só se expressa quando encontra as condições propícias, ou seja encontra um outro gen anão no parceiro", declarou.
Com base nos estudos que vem realizando, sob orientação do chefe do Departamento de Endocrinologia da USP, Bernardo Leo Wajchenberg, ela pretende realizar um trabalho de aconselhamento genético.
"O aconselhamento é a melhor forma de evitar a continuidade da formação de gerações de anões na localidade", disse.
Carmela Ferrari afirmou ainda que as crianças anãs podem voltar a crescer se forem submetidas a tratamento, que deve ser feito com a aplicação de doses do hormônio do crescimento sintético.
O hormônio é produzido no Brasil e cada kit com quatro unidades custa R$ 60,00. É necessária a aplicação de uma dose por dia, o que torna o tratamento caro.
Mesmo assim, esse tipo de tratamento tem sido feito no Hospital das Clínicas de São Paulo em crianças anãs do Estado.
"O tratamento é eficiente e pode ser feito na própria cidade de Itabaianinha. Mas é preciso de recursos para viabilizá-lo", afirmou.

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