São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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A saúde pública pede socorro

AYRES DA CUNHA

O brasileiro que paga impostos experimenta um sentimento de grande indignação cada vez que lê notícias dando conta do quadro catastrófico em que se encontra a saúde pública em nosso país. Prossegue o festival de fraudes, clientelismo, corrupção, desperdício e desvio de verbas.
A saúde pública no Brasil está sofrendo de infecção generalizada e não é de hoje. Por aqui, além de não se privilegiar a medicina preventiva, os recursos destinados à medicina curativa são ou mal empregados ou desviados. Parece que existe um pacto com a fraude.
Temos acompanhado pela imprensa uma grande quantidade de artigos criticando os "excessos" dos gastos com saúde em nosso país e a ineficiência da assistência médico-hospitalar prestada à população em geral.
Um verdadeiro holocausto da saúde, onde concluímos que a falência do sistema público de saúde é um fato consumado devido não só à incompetência gerencial, mas sobretudo a razões de ordem política.
Saúde, como tantos outros serviços, necessita de orçamento. Aprovou-se um orçamento de US$ 8 bilhões, quando objetivamente necessitávamos, no mínimo, de US$ 12 bilhões! O Brasil é um dos países que menos gasta com saúde em todo o mundo.
Destina-se ao setor cerca de 4,2% do PIB, contra 7% a 15% dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
O governo federal vem diminuindo os gastos com a saúde de ano a ano, declinando de US$ 11,5 bilhões em 1989 para US$ 7,5 bilhões em 1993. Em termos de investimentos "per capita", estudos divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram uma queda de 10%, comparando os US$ 63,4 de 1990 com o US$ 58 de 1993.
O sistema público de saúde é necessário e fundamental. Acabar com a corrupção, os desperdícios e otimizar o atendimento é um dever das autoridades governamentais, que devem deixar de lado o clientelismo e começar a redefinir a política de reordenamento das prioridades na área de saúde pública.
Os fatos estão aí e são estarrecedores. Já passou da hora de governo, prestadores de serviços e usuários se empenharem para não só aprofundar as discussões sobre a ineficácia do sistema de saúde, como também para buscar alternativas e soluções viáveis, a fim de proporcionar um atendimento mais digno à população em geral.
A crise da saúde tem solução, basta vaciná-la contra as ingerências político-partidárias, as omissões e desacertos dos responsáveis pelo setor.

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