São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Decisão de ficar na tribo ou viver como branco confunde jovem índio

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao entrar na adolescência, os índios protagonizam um ritual de iniciação à vida adulta. Atualmente, o jovem índio tem, pelo menos, duas alternativas: adotar os padrões de comportamento de sua tribo ou se preparar para a vida adulta em uma escola, junto com adolescentes brancos.
O sociólogo Hélio Jaguaribe não vê saída para a tradição indígena. "Até o século 21 a cultura indígena vai acabar", diz. Ele acha que não há como impedir a influência da cultura branca.
Para ele, "forçar" um jovem índio a não se adaptar à cultura branca é uma bobagem. "Eles têm vontade de viver uma vida com tudo o que a civilização dos brancos oferece", diz.
Jaguaribe acredita que um índio deve ter meios para se adaptar à vida nas cidades. "Com educação e trabalho."
Neste ano, nativos de 30 tribos do Amazonas deixaram as aldeias para estudar em Manaus (leia texto abaixo). Nenhum se arrepende, mas todos admitem que há conflitos com os pais e com a nova cultura.
Uma opinião oposta à de Jaguaribe é a da também antropóloga Ângela Maria Pappiani, coordenadora do Núcleo de Cultura Indígena. "A tradição indígena se mantém enquanto os índios transmitirem seus costumes às novas gerações."
Na semana que vem, com ajuda de Ângela, a outra alternativa dos índios teens –manter suas tradições– fica mais conhecida pelos brancos. Chega às lojas o disco "Etenhiritipá –Cantos da Tradição Xavante", o primeiro do selo Quilombo, do cantor e compositor Milton Nascimento.
O disco é uma compilação de cantos usados nas cerimônias de iniciação dos índios xavantes. Os ritos da adolescência foram escolhidos pelos próprios índios.
Pela tradição xavante, o wapté (adolescente, em xavante), aos dez anos, deixa a família e muda para a Hõ, a "casa dos adolescentes".
Os meninos moram com outros garotos. Perdem a proteção dos pais e passam a ser educados por um padrinho.
Eles vivem nessa casa por quatro ou cinco anos. A entrada e a saída da Hõ são comemoradas com um ritual. As duas cerimônias estão presentes no disco.
"A iniciação na vida adulta é um processo muito demorado para eles", diz Ângela, produtora do disco. Os ritos são diferentes para meninos e meninas.
Enquanto os homens são preparados para "governar" a tribo, as mulhres recebem orientação para cuidar da casa.
A cerimônia mais importante é a furação de orelha –quando o garoto deixa a Hõ e se integra à vida adulta. Ter a orelha furada significa que o jovem índio passou à vida adulta.
As meninas ficam com a mãe e aprendem a plantar e preparar os alimentos. Aprendem também algumas cerimônias.
Uma delas é a nomeação. Quando as jovens índias são consideradas adultas, recebem outro nome, que adotam para o resto da vida.
A primeira menstruação também é marcada por cerimônias importantes. Depois da menarca, as garotas ficam reclusas. O período de reclusão varia com a tribo, mas a cerimônia é a mesma.
Segundo Ângela, esses rituais são importantes para manter viva a tradição indígena. "Eles transmitem a tradição para as novas gerações e fazem com que a cultura indígena não se perca", diz.

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