São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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"Sábado" abre Mostra Banco Nacional

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sábado", de Ugo Giorgetti, o filme que abre hoje a versão paulistana da 6ª Mostra Banco Nacional de Cinema, é uma amarga comédia urbana.
Mostra um dia na vida de um prédio decadente do centro de São Paulo, habitado por prostitutas, bêbados, mendigos e marginalizados de toda espécie. Mas é um dia muito especial: o sábado em que uma equipe de publicidade vai filmar um comercial "chique" no maquiado saguão do edifício.
Terceiro longa-metragem de ficção de Giorgetti –os dois primeiros foram "Jogo Duro" (1985) e "Festa" (1988)–, "Sábado" traz duas marcas registradas do diretor: foi praticamente todo rodado em estúdio e mistura em seu elenco atores e não-atores.
Entre os primeiros, estão em "Sábado" Giulia Gam, Renato Consorte, Maria Padilha e Otavio Augusto. Entre os últimos, o poeta Décio Pignatari e os músicos Tom Zé, Wandi (do Premê) e André Abujamra. De quebra, uma aparição muito especial de Jô Soares.
No enredo episódico, formado por múltiplos pequenos incidentes, há um acontecimento que amarra todos os outros: a pane de um elevador, que mantém presa a diretora de arte do comercial (Maria Padilha), em companhia de um cadáver e dos homens do IML que vieram buscá-lo (Otavio Augusto e Tom Zé).
Com um excelente domínio do ritmo (apesar de uma sequência talvez longa demais no topo do prédio) e da segurança na direção de atores, Giorgetti mostra mais uma vez aquela que talvez seja sua maior virtude: o "ouvido" para a fala coloquial urbana (sobretudo paulistana).
Ao contrário do que ocorre em tantos filmes brasileiros, nenhum diálogo soa artificial –a não ser quando o diretor assim o quer.
Mas o que mais reafirma no filme o estilo autoral de Giorgetti é a orquestração dos contrastes sociais e culturais num ambiente que pode ser visto como um microcosmo da sociedade.
O mundo dos mauricinhos integrados e o mundo dos bárbaros excluídos se chocam, por vezes quase se comunicam, depois voltam a se afastar. Há pouco otimismo no humor implacável de Giorgetti.
Experiente diretor de comerciais de TV, Giorgetti, 51, conhece a fundo o ambiente que retrata e ironiza. Curiosamente, boa parte dos US$ 500 mil do orçamento do filme vieram de empresas de publicidade, através do abatimento de impostos municipais proporcionado pela Lei Mendonça.
O restante do custo foi coberto por verbas das secretarias municipal e estadual de Cultura de São Paulo, Banespa e Banco de Brasília –graças a concursos em que o filme foi selecionado.
Com exceção de uma breve cena externa, filmada no centro de São Paulo, "Sábado" foi todo rodado no velho estúdio da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo (na Grande São Paulo). Os figurantes do filme são moradores de São Bernardo que iam ver as filmagens.
Mostra em SP
A 6ª Mostra Banco Nacional de Cinema, iniciada dia 1º de setembro no Rio, começa hoje em São Paulo com uma sessão de "Sábado" só para convidados.
Para o público, a mostra começa amanhã, no Espaço Banco Nacional de Cinema (r. Augusta, 1.475, Cerqueira César) e na Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros).
A edição paulistana da mostra, que vai até o dia 15, exibirá 39 filmes no "Panorama do Cinema Mundial", oito na mostra "Estação Cult" e 12 na "Retrospectiva Roger Corman".

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