São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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Os majoritários da FBP

FLORESTAN FERNANDES

São Paulo apresenta, na esfera dos candidatos a senador e governador, um quadro de intensa competição eleitoral. A Frente Brasil Popular lançou João Hermann, do PPS. Um candidato de trajetória conhecida, com antigas zonas de consolidação popular, que infelizmente não está colhendo os resultados que merece. Pelo PT, a FBP recorreu a dois candidatos que preenchem expectativas de êxito: a ex-prefeita Maria Luíza Erundina e o deputado federal José Dirceu.
Erundina possui um currículo político invejável. Sua carreira, até agora, tem sido exemplar em todos os cargos de representação que conquistou. Afirmou-se como uma força política expressiva dos novos tempos e do PT. Tenaz, intransigente na vinculação dos mandatos com as exigências e os interesses dos eleitores pertencentes às classes trabalhadoras, dos sem classe e dos estratos das classes médias punidos pela inflação, a recessão e os baixos salários, ela deixou especialmente na Prefeitura de São Paulo o perfil do novo tipo de político que a população deseja.
No nível em que concorre a disputa assumiu contornos acirrados. Ela enfrenta, além de concorrência, a falta de apoio característica dos candidatos de esquerda. Os que mandam não investem seu dinheiro no financiamento de candidaturas que não se sintonizam com promessas de mudanças cosméticas. Ela já desagradou muita gente rica e poderosa através de projetos que não rendiam os costumeiros dividendos à classe dominante e a suas elites. O seu passado político, as realizações que marcaram para sempre a sua passagem pela prefeitura e seu programa de candidata ao Senado só despertam as mentes e os corações dos que vêem nela a esperança de renovação profunda.
José Dirceu repete os gestos e a vocação de combatente que o impulsionaram, desde estudante, a confrontar as iniquidades da ordem estabelecida. Deve ser viva a lembrança do ataque policial-militar à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Esmagar estudantes, professores e arruinar o prédio principal eram o objetivo central. José Dirceu portou-se com bravura, à frente de seus companheiros.
Mais tarde, voltou à política e consagrou-se ao PT e aos seus fins imediatos ou finais. Cumpriu com brilho as incumbências da representação parlamentar, os encargos de secretário-geral do PT e as tarefas administrativas e políticas decorrentes. Agora, arcando com a responsabilidade de candidato a governador do Estado de São Paulo, formulou com sua assessoria um programa de governo sólido e voltado para as transformações radicais urgentes.
Sucessivos governadores deixaram que o Estado entrasse em situação de crise, acompanhando o "finge que faz" típico do presente brasileiro. Coração do capital financeiro, São Paulo demonstra a resistência do conservantismo arraigado, que deveria ter desaparecido há tempo! Sob essa ótica, a candidatura de Dirceu constitui um importante teste para analisarmos o que ainda continua válido e com o que contaremos no futuro próximo para despertar São Paulo de uma hegemonia sufocante e negativa.

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