São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Fim dos leilões para café gera polêmica

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

A tentativa do governo de acabar com os leilões de café e instituir o Proemex, um programa de retenção de exportação, provocou reações diferentes de indústrias e exportadores.
A medida ganhou apoio dos exportadores e é criticada pela indústria torrefadora.
Trata-se de uma polêmica que aponta indícios de favorecimento aos exportadores. Mas ela prova que algo está errado com a política cafeeira no Brasil– em prejuízo do consumidor final.
O consumidor paga, aqui, mais pelo quilo do café do que nos EUA, que importa o produto.
O café acumulou alta de mais de 100% entre janeiro e maio de 94, obrigando o governo a leiloar 2,1 milhões de sacas de seu estoque para segurar os preços.
Em junho, devido às geadas nas regiões produtoras, o Conselho Monetário Nacional liberou mais cinco milhões de sacas dos estoques oficiais para leilão.
A proposta de suspender os leilões vem do Ministério do Comércio, Indústria e Turismo (MICT), comandado por Élcio Álvares.
O Proamex ressuscita um mecanismo conhecido por "camileta" (alusão ao nome de Camilo Calazans, ministro da Indústria e Comércio na década de 70).
Pelo mecanismo, para cada duas sacas exportadas uma tem que ser vendida no mercado interno.
"O Proamex dificilmente vai fazer o preço baixar para o consumidor porque o Brasil já registrou a maior parte do café que será exportado até o final do ano, e a medida não será retroativa", diz David Naum, vice-presidente da Assoaciação Brasileira da Indústria de Café Torrado e Moído (Abic).
No próximo dia 14, reunião do Comitê Brasileiro do Café –entidade que reúne produtores, indústrias e exportadores– irá discutir o assunto com o governo.
Para a Abic, o fim dos leilões vai sustentar alta de preços no mercado interno e externo. David Naum acredita que os exportadores querem o fim dos leilões para poderem voltar a intermediar a venda da matéria-prima para a indústria torrefadora.
Jair Coser, presidente da Federação Brasileira dos Exportadores (Febec), discorda. Ele defende o fim dos leilões porque avalia que o governo está vendendo café subsidiado de seus estoques para as indústrias.
Dados da Febec mostram que o consumidor, no Brasil, paga R$ 7,2 o quilo do café torrado e moído, contra os R$ 6,8, convertidos de dólar para real, desembolsados pelo produto nos EUA.
A Abic atribuiu a disparidade à carga tributária de 26% que incide sobre a industrialização de café.
O MICT alega que é necessário suspender os leilões também para preservar os estoques brasileiros –atualmente, próximo dos 14,8 milhões de sacas–, deixando para colocá-lo no mercado a partir de janeiro de 96.
O ministro Élcio Álvares disse em Brasília que "não há perigo de faltar café no mercado". Ele informou que o governo tem 16 milhões de sacas estocadas.
Mercado internacional
No mercado de Londres, os contratos de café para entrega em novembro fecharam ontem cotados a US$ 4.030 por tonelada, U$ 107 acima do dia anterior e apenas U$ 55 abaixo do recorde atingido em 11 de julho (US$ 4.085).
Em Nova York, a Maxwell House, maior importadora de café dos EUA, anunciou ontem reajuste nos preços de algumas das marcas mais populares comercializadas pela empresa.

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