São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Dirigentes do PT desautorizam Lula

CARLOS EDUARDO ALVES

A coordenação da campanha presidencial do PT e Luiz Inácio Lula da Silva estão andando em sentidos diferentes.
A cúpula petista ainda não compreendeu e tampouco digeriu a avaliação de Lula sobre a atuação do presidente Itamar Franco no processo eleitoral.
Anteontem à noite em São Paulo, o candidato petista isentou Itamar de responsabilidade nos episódios que caracterizam o uso da máquina federal na campanha de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Na ocasião, Lula afirmou que "pessoalmente" o presidente da República não estaria envolvido no que chamou de "maracutaias". A declaração de Lula contrariou o discurso da direção petista.
Rui Falcão, o presidente do PT, recusou-se a comentar a declaração do candidato do partido.
Informado sobre a avaliação de Lula minutos depois de ela ser feita, durante um comício petista na zona leste paulistana, Gilberto Carvalho (secretário-geral do partido) simbolizou o espanto ao levar as mãos à cabeça.
Ontem, Falcão voltou a atacar a administração de Itamar Franco. "O governo deveria se preocupar menos com a eleição e mais com a inflação", disse Falcão.
Para o dirigente petista, a falta de punição ao ministro Alexis Stepanenko prova que o governo não está isento no processo eleitoral.
"A máquina continua sendo usada, em conluio com a grande mídia, particularmente com a Rede Globo", acha Falcão.
A campanha petista, depois de um curto período de entusiasmo causado pelo episódio Ricupero, entrou na fase de torcida.
A avaliação hegemônica no partido é que já foi feito quase tudo que é possível para levar Lula ao segundo turno.
Aumentou a participação da militância na campanha, o programa de TV é considerado bom e os problemas de distribuição de material são menores hoje.
Permanece, no entanto, o obstáculo talvez fatal representado pelo apoio da população ao Plano Real, que sustenta a liderança de FHC.
Não há mais esperança sobre o desmoronamento das medidas econômicas e mesmo o alento do caso Ricupero, teme-se no PT, pode não surtir o efeito esperado.
No início da semana, ainda sob o impacto inicial do imbroglio Ricupero, chegou-se a pensar em radicalizar de vez as críticas ao real.
A avaliação dos últimos dias, porém, trouxe um novo recuo: críticas tímidas ao plano e ênfase no embate moral contra o uso da máquina para favorecer o tucano.
Lula tem recomendado prudência aos que querem levar adiante a idéia de impugnar FHC: teme que parte do eleitorado interprete a ação como fruto do desespero petista.

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