São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Choque de oferta

Apesar das declarações desencontradas da equipe econômica sobre a possível redução das alíquotas de importação, parece claro que o governo federal cogita utilizar também esse intrumento para conter os preços internos.
A disponibilidade de produtos importados teria o efeito de impedir os fabricantes nacionais de elevarem seus preços. É o que os economistas chamam de choque de oferta, para contrabalançar os efeitos de um aumento do consumo.
A abertura da economia à concorrência externa é um processo saudável e deve ser perseguido, pois força a modernização e a busca de maior produtividade por parte das empresas nacionais.
A condução desse processo, entretanto, não é uma tarefa simples. O protecionismo, que integrou a política até bem-sucedida de substituição de importações, tornou-se há anos um obstáculo às novas estratégias de crescimento. Mas uma liberalização excessivamente rápida da economia poderia levar ao sucateamento de alguns setores da indústria nacional.
O ritmo desejável da abertura econômica, da qual o cronograma de reduções dos impostos de importação é a face mais visível, depende do equilíbrio entre esses dois pólos. Nesse sentido, é natural que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) manifeste-se contrária a um rebaixamento demasiadamente rápido e indiscriminado das alíquotas.
De fato, o empenho atual em estancar a subida dos preços pesa em favor da tese de reduzir veloz e generalizadamente as barreiras alfandegárias. E, efetivamente, a redução de alíquotas é um instrumento legítimo das políticas antiinflacionárias. É claro que, pelos riscos que comporta, esse mecanismo deve ser utilizado criteriosamente. Mas a argumentação em favor de uma política "responsável" não pode servir de escudo do velho protecionismo.
A política tarifária demanda sem dúvida uma ação planejada do governo. Não para proteger setores ineficientes, mas para estabelecer uma trajetória segura de abertura da economia nacional.

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