São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Relações incestuosas

As notícias de que o aumento do compulsório veio agravar ainda mais as dificuldades por que passam os bancos estaduais no país colocam em evidência a necessidade de que o problema comece afinal a ser enfrentado com coragem e determinação. Essa situação, de fato, já vem se arrastando há tempos e poderá acabar cobrando um custo muito alto do cidadão.
Em meio a todo o labirinto de números que são sempre levantados acerca desse tema, há na verdade duas questões que se sobressaem. A primeira sem dúvida refere-se a como sanear tais instituições. E a segunda, diretamente relacionada à anterior, trata da relação incestuosa –para dizer o menos– que os governos estaduais têm com seus bancos.
De nada adiantaria tentar recuperar essas instituições se os Estados puderem sempre voltar a recorrer ao seu socorro para financiar gastos. E isso tende a prosseguir enquanto a gestão dos bancos pautar-se por injunções políticas, por sua vez inevitáveis quando é o governo estadual que indica a direção desses bancos.
Se uma administração mais criteriosa dos recursos, com o fim do socorro a governos perdulários, e controle rígido pelo Banco Central são precondições para um esforço de saneamento, a resposta definitiva parece exigir providências ainda mais drásticas. Afinal, o risco de uma recaída sempre existirá enquanto esses bancos permanecerem sob controle estatal.
Um meio de realmente desvincular as instituições estaduais da esfera política é portanto a privatização. É sem dúvida uma tese polêmica, que sofre oposição ferrenha das corporações envolvidas. Por mais numerosas que sejam, contudo, defendem um interesse específico que não pode se sobrepor ao interesse geral da sociedade. E este último demanda que a proposta seja examinada com cuidado e isenção.
É de se notar ainda um benefício adicional advindo da desestatização. Sem ter quem cubra os rombos provocados por seus excessos, os governos estaduais seriam forçados a agir com maior responsabilidade –providência sempre bem-vinda, particularmente para um país em delicada trajetória de estabilização como o Brasil.

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