São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Por que Lula ajuda FHC

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Pesquisas reservadas que chegavam ontem ao comitê de Fernando Henrique Cardoso indicavam que, até aqui, o episódio da parabólica não alterou a tendência das eleições. Os números mostram o candidato tucano distante 20 pontos de Luiz Inácio Lula da Silva, o que lhe garantiria a vitória no primeiro turno. Há, porém, uma má notícia para os tucanos.
A má notícia são as pesquisas que investigam o sentimento dos eleitores. A imensa maioria não mudou a intenção de voto; está mais desconfiada e insegura com o real. Está mais sensível às acusações de que o plano seria eleitoreiro, capaz de se esfacelar logo depois de abertas as urnas.
O crédito de confiança no real, portanto, em Fernando Henrique, caiu, embora não tenha alterado a tendência dos votos. A candidatura, porém, mostra-se mais vulnerável e uma nova denúncia seria encarada com menor tolerância. Tradução: enterra-se de vez a chance de a eleição terminar em 3 de outubro.
Quem salva Fernando Henrique é, por incrível que pareça, Lula. Cresceu a desconfiança no real, mas permanece a torcida para que dê certo. Os eleitores imaginam que, pelo menos, Fernando Henrique iria tentar salvar o plano. Lula, ao contrário, tentaria dizimá-lo.
Por conhecer essa tendência, captada nas pesquisas reservadas, Fernando Henrique bate numa tecla: a de que Lula seria o "candidato da inflação". Manipula maliciosamente, assim, o erro do PT em bater de frente no real, sem prever seu prestígio na opinião pública.
Os demais adversários também ajudam Fernando Henrique. A disputa está polarizada e não surge uma alternativa. Quércia, Brizola e Esperidião perdem espaço até para Enéas. Solidifica-se, assim, a tese do "mal menor": o decepcionado eleitor do candidato tucano não vê opção.
PS – Continuava ontem a se espalhar pelo Paraná propaganda anti-semita contra Jaime Lerner através de milhares de panfletos. Mais um candidato a deputado do PP, partido de Álvaro Dias, referiu-se pejorativamente ao fato de Lerner ser judeu. Foi chamado de "anticristo e ateu". A história mostra que, se esses delinquentes não forem exemplarmente punidos, fica mais difícil depois controlar ações de racismo.

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