São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Aumento do consumo e crédito mais difícil para bancos desafiam BC

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O volume de vendas a prazo saltou, em agosto, de 30% para 60% dos negócios no comércio paulistano e já começava a existir alguns gargalos na oferta.
Foi este o pano de fundo que obrigou o Banco Central (BC) adotar medidas para reduzir o consumo. Com anúncio do presidente do BC, Pedro Malan, aumentou o depósito compulsório sobre CDBs e cadernetas de poupança.
O aumento é gradual e seu efeito completo só será sentido depois do primeiro turno das eleições.
O objetivo da medida do governo é, segundo Oswaldo de Assis, vice-presidente do Banco Itamarati, controlar a demanda agregada, "restringindo o crédito".
Para ele, são as características da economia brasileira (especialmente a concentração da renda) que produzem, desde o Plano Cruzado de 1986, crescimento do consumo (e não da oferta) logo depois da queda da inflação.
"Qualquer aumento da renda disponível se transforma em consumo imediatamente, porque ele está reprimido. A decisão individual é racional. O problema está no agregado."
Pedro Bodin, ex-diretor do BC e, atualmente, no Banco Icatu, diz que o "o BC deu um sinal claro que considerava excessiva a velocidade de expansão do crédito".
Para ele, o aumento do crédito já dava sinais de acomodação, "mas o BC preferiu errar por excesso" para se antecipar a um movimento que se desenhava: o aquecimento do consumo poderia se consolidar com o pagamento antecipado (fora da data-base) de reajustes salariais pelo IPC-r.
Bodin diz que o BC não deve considerar o aumento do compulsório como "dogma" e deve mudar as regras se o enxugamento da liquidez obrigar "instituições a se socorrerem nas linhas do próprio BC". Ou seja, o BC enxuga a liquidez com uma mão e dá dinheiro com a outra.
Essa é justamente a dúvida do mercado sobre a eficácia do compulsório. Quem vai perder antes o fôlego: o consumo ou algumas instituições?

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