São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994 |
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Procurar gafes na TV vira 'hobby' no país
RICARDO FELTRIN
Famílias inteiras, como a do analista de sistemas Luiz Carlos Bucci Lopes, de São Paulo, começam a deixar de assistir a programação normal para tentar captar gafes ou bastidores antes das transmissões normais. "Nós compramos a antena parabólica para melhorar a imagem, mas ela acabou melhorando a programação", brinca a dona-de-casa Vera Lúcia, mulher de Lopes. Ela afirma que seus filhos Rodrigo, 12, e Tiago, 5, também são adeptos do rastreamento. Na última quinta-feira, Vera Lúcia e seu marido conseguiram captar a irritação da jornalista Salete Lemos, do SBT, antes de entrar no ar ao vivo, no TJ Brasil. A jornalista não conseguia ensaiar seu texto e sua irritação com parte da equipe (que estaria atrapalhando sua concentração) pôde ser assistida. Os bastidores podem ser vistos porque, antes das transmissões ao vivo, as equipes técnicas e de repórteres se comunicam com as centrais de TV através do chamado "link" (elo), via satélite. Parabólicas sintonizadas em canais de satélites conseguem captar isso. Outro adepto do rastreamento é o técnico em eletrônica Carlos Henrique Ormenese, de Jundiaí. Ormenese, 23, gravou o célebre diálogo sobre Pelé entre o locutor Galvão Bueno e a Globo, durante a Copa do Mundo dos EUA. "Também já vi repórteres falando palavrões antes de entrarem no ar", diz o técnico em eletrônica. Francisco Bergamin, 31, operador da rádio Cultura FM em Araraquara, diz que captar um flagrante pela parabólica é, às vezes, muito mais emocionante do que assistir à programação normal. O comerciante Jobel Gutierres, 34, de Amparo, afirma que gasta parte de seu fim-de-semana "fuçando" os canais com sua antena parabólica. Durante a Copa do Mundo, ele captou a discussão entre Romário e um repórter da Globo. "O repórter, cujo nome não me lembro, ficou um tempão implorando uma palavrinha para o Romário, que não queria falar de jeito nenhum. Acabou falando." Com o deslize ministerial, dez dias atrás, o novo "hobby" ganhou ainda mais impulso. Lojas em São Paulo que vendem parabólicas consultadas pela Folha têm registrado aumento nas vendas que variam de 30% a 50%. Segundo a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), existem em torno de 2 milhões de parabólicas espalhadas pelo país. Dacio Nitrini, 43, diretor-executivo do TJ Brasil, do SBT, afirmou que não há nenhuma intenção de a emissora orientar repórteres no sentido de tomar cuidado com o que falam antes das transmissões ao vivo. "Todos os profissionais já sabem que as parabólicas captam conversas. Vamos continuar trabalhando normalmente", declarou. A Folha tentou ouvir a Rede Globo, mas a emissora não quis se pronunciar sobre o assunto. * Colaborou ARMANDO ANTENORE, da Reportagem Local. Texto Anterior: 'Todo mundo quer decolar junto em Cumbica' Próximo Texto: Celular é alvo de escuta Índice |
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