São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Real lota motéis e o consultório de sexólogos

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O paulistano, desde julho, passou a enfrentar filas de motéis e a sala de espera de sexólogos.
Os "hotéis de alta rotatividade" chegaram a registrar aumento de 100% no movimento de junho para julho. Em alguns casos, isso significa 50 minutos de espera por um quarto.
O "aumento de libido" do paulistano foi notado também pelos sexólogos, que têm observado seus consultórios encherem nos últimos meses.
Donos de motéis e sexólogos concordam ao apontar a causa desse "aquecimento": a estabilidade econômica, que permitiria uma vida sexual mais ativa.
Segundo Oswaldo Rodrigues Júnior, 35, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, o fim da inflação diminui o estresse do casal e permite uma atividade sexual melhor. "Mas, ao mesmo tempo, revela problemas nessa área".
"Há pessoas que, apesar do momento econômico favorável, não voltam à vida sexual. Sofrem o desgaste do período anterior", diz. "E, com mais dinheiro no bolso, procuram ajuda de especialistas."
Rodrigues Júnior diz que na clínica H. Ellis (Pacaembu, zona oeste de SP), onde trabalha, o movimento em dois meses de real foi acima do esperado. "Mesmo incluindo um período de férias, tivemos uma procura bem maior que em julho e agosto de 93."
Nos motéis a situação é semelhante. Quem anda de carro à noite pode perceber as filas em motéis da marginal Tietê e das rodovias Castelo Branco e Imigrantes.
Para conseguir uma suíte em um dos 250 motéis de São Paulo, casais enfrentam filas de espera que podem chegar a 50 minutos em estabelecimentos como o Studio A ou o My Flowers, em um sábado.
Passar quatro horas numa suíte com hidromassagem e sauna custa entre R$ 40 e R$ 60 nos principais motéis. O preço pode ir a R$ 348 em suíte mais sofisticada.
Milso Pedro Campos, 53, presidente da Associação Paulista de Motéis, diz que o setor caminha para níveis próximos aos de 1985, antes do primeiro choque antiinflacionário, o Plano Cruzado.
Depois dos sucessivos planos econômicos, o setor ficou desestruturado até atingir apenas 30% do movimento de nove anos atrás, diz Campos (leia ao lado).
Na avaliação de Campos, a confiança na moeda é a responsável por essa "febre de sexo".
"Sentindo que agora têm mais dinheiro, as pessoas voltaram aos motéis. Com a cabeça fresca, o sexo fica mais fácil", afirmou.
Gerentes de motéis confirmam o aumento no movimento.
Maristela Heshiki, 26, do Mikonos (rua Laguna 214, Santo Amaro, zona sul), diz que houve "melhora de 30% em relação a junho".
Para passar 12 horas em uma das 53 suítes do motel (a preços de R$ 35 a R$ 170), 65 casais em média procuram o local em um sábado. Antes do real eram 50.
No Caribe (avenida Antártica, 2, Barra Funda, zona oeste), o aumento chega a 20%, segundo um dos sócios, Andrés Roris Cu¤a, 49. "Recebíamos cem carros aos sábados. Agora são 120."
O motel tem 80 suítes, com preços entre R$ 37 e R$ 99.
A gerência do My Flowers (avenida Ricardo Jafet, 1.188, Jardim Vila Mariana, zona sul) detectou um movimento 30% maior em agosto em relação a junho.
Num sábado, 240 casais buscam suas 76 suítes. Os preços variam entre R$ 35 e R$ 80.
No Studio A (rua Coronel Euclides Machado, 1.023, Freguesia do Ó, zona norte), a gerência também confirmou uma procura maior.

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