São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Imagem e reprodução no livro brasileiro

ALBERTO ALEXANDRE MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Imagem e reprodução no livro brasileiro
Porque toda obra de pensamento é também uma obra material, Orlando da Costa Ferreira (1915-1975) sabia que era imprescindível, num país de cultura lacunar como o Brasil, obter uma compreensão adequada do que é o livro e dos meios de gravação e reprodução de imagens que entram em sua composição.
Para tanto, este pernambucano professor de história do livro na Universidade do Recife, mais tarde diretor da Biblioteca da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e que foi também um dos fundadores de "O Gráfico Amador" (oficina-editora não-comercial que até 1961 publicou pequenas edições inovadoras de textos de Cabral, Drummond e muitos outros), dedicou sua vida a reunir um valioso acervo de informações sobre a história da imagem impressa no Brasil, da Colônia às décadas iniciais do século 20.
Dialogando com estudiosos clássicos do assunto como o norte-americano W. M. Ivins e o francês Jean Laran, aliando a pesquisa histórica a um fundo conhecimento técnico e enriquecendo tudo isso com a cultura de homem de letras, de refinado gosto estético, produziu uma obra importante, que se move ao mesmo tempo em vários níveis e é permeado tanto pela alta gravura de Goeldi, Segall, Lívio Abramo e Iberê Camargo, como pelas produções do cordel nordestino, ou ainda as estampas de rótulos de garrafas, embalagens etc.
Neste "Imagem e Letra" (parte inicial de um projeto que deveria prosseguir com "a imagem fotogravada, a letra de forma, a forma de letras, a arte negra (impressão), a arte branca (o papel)" e que não teve tempo de concluir), o autor se debruça sobre os quatro processos de gravação e reprodução: a gravura em relevo (xilogravura), em entalha (gravura em metal), em plano (litografia) e por estampilha (serigrafia). A seguir, numa curiosa prospecção histórica, detalha a aventura dos pioneiros da imagem reprodutível entre nós, detendo-se sobretudo nas oficinas de "gravura e estamparia" que floresceram no Rio de Janeiro, ao longo do século 19, e nos periódicos que então marcaram época, como o "Diabo Coxo", a "Revista Illustrada", }O Malho". Por último, apresenta um manual de descrição de imagens gravadas, num universo largo que vai "do livro à folha volante, do selo postal ao cartaz de rua".
Esgotado desde sua primeira edição em 1976 e agora oportunamente reeditado pela Edusp na coleção }Texto e Arte, cujo formato destaca suas inúmeras ilustrações, "Imagem e Letra" fala tanto a artistas como a historiadores, sociólogos como publicitários, numa abrangência tão multidisciplinar quanto o próprio objeto "livro".

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