São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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EUA debatem obrigatoriedade de teste anti-Aids

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos recentemente divulgaram observações preliminares sobre a ação do AZT em grávidas infectadas pelo vírus da Aids (HIV).
Em muitos casos, a droga consegue eliminar o risco de contaminação do feto. No estudo, que abrangeu grávidas infectadas pelo HIV, as mães não tratadas tiveram três vezes mais filhos infectados do que as tratadas.
O tratamento causa leve e passageira anemia no feto e seus eventuais efeitos tardios são ainda desconhecidos.
Essa observação veio acender ainda mais o debate que se trava naquele país e em outros a respeito da aplicação do teste do HIV a todo recém-nascido.
Em quase todo o território dos Estados Unidos é hoje rotina colher sangue dos recém-nascidos por uma picada no calcanhar e submetê-lo ao teste que revela a presença de anticorpos (substâncias específicas de defesa) contra o HIV. O teste é absolutamente sigiloso para preservar a privacidade. Em 25% dos casos, o feto adquire não apenas os anticorpos maternos mas também o vírus. Essa aquisição ocorre no interior do útero ou no momento do parto.
A quebra do sigilo só é permitida quando a mãe o solicita por escrito, esclarecida sobre as discriminações que o aidético sofre especialmente no que se refere a seguros e trabalho. O interesse do teste é essencialmente epidemiológico, para conhecer o alastramento do vírus. Essa complexa questão tem ensejado muito debate entre médicos, políticos e ativistas, desde 1985, quando foi descoberto o teste.
Depois de muitas divergências, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, começou a planejar programas federais de reconhecimento de mulheres HIV-positivas, para fins epidemiológicos, preocupado também com a vulnerabilidade das grávidas. Decidiu afinal propor a obrigatoriedade do teste, que foi aceita por muitos Estados. Visando sobretudo às criancinhas, mais sensíveis aos efeitos do vírus, iniciou-se programa de tratamento precoce, que, embora incerto quanto ao vírus em si, pode ser muito ativo em relação às doenças oportunistas.
Uma das saídas encontradas para resolver o debate a respeito da aplicação do teste foi a instituição do aconselhamento materno sobre as vantagens de as gestantes conhecerem a situação delas e dos esperados filhos relativamente ao HIV. Mas essa solução não se revelou fácil, o que levou os legisladores a intervir, autorizando o teste obrigatório.
Convencer as mães requer muita habilidade e paciência da parte do pessoal médico, mas quando essas qualidades existem, dizem alguns especialistas, chega a 90 por cento o número das mulheres que aceitam o teste, oferecido não como imposição mas como opção favorável.
A questão sem dúvida ganhou novas perspectivas com a verificação de o AZT, ministrado durante a gravidez, diminuir a probabilidade de gerar filhos portadores do vírus da Aids.

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