São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Separatismo deve vencer no Québec

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REDAÇÃO

Um partido separatista é o grande favorito para vencer as eleições de amanhã na segunda maior Província do Canadá.
Se as pesquisas de opinião se confirmarem, no meio do ano que vem os moradores do Québec votarão pela segunda vez em um plebiscito pela separação do país.
}Claro, vamos vencê-lo, disse à Folha Bernard Landry, vice-presidente do PQ (Partido do Québec), que promete promover a votação dez meses depois de eleito.
Para Landry, }os 7,2 milhões de habitantes da Província constituem uma nação. Território comum, língua comum –que é o francês. Québec é a única região do Canadá onde a maioria da população (82%) fala francês.
Apesar da vantagem média de dez pontos percentuais em relação ao PL (Partido Liberal, no poder), dois terços dos }québecquois (palavra francesa, pronuncia-se }quebecuá) ainda rejeitam a idéia de separação –como fizeram 59,5% dos eleitores em 1980.
Mas Landry diz que }o tempo passa e a identificação com o eleitorado avança. Os jovens tendem a não se considerar canadenses, mas sim do Québec.
Ex-ocupante de quatro ministérios do governo do Canadá, Landry, 57, falou à Folha por telefone de Montreal. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - Em que se baseia a campanha pela soberania do Partido do Québec?
Bernard Landry - Em um fato muito simples. Os moradores da Província, cerca de 7 milhões, constituem uma nação no completo sentido do termo.
Território comum, língua comum, que é o francês –mas com sagrados direitos para uma minoria que fala inglês–, vontade comum de viver juntos, cultura comum, história comum.
Folha - Há razões econômicas para a independência?
Landry - Claro. Porque, quando uma nação aceita ser simples província de outra, seus interesses econômicos são mal atendidos.
A nação dominante tende a centralizar poder e meios e a trabalhar em seus interesses próprios. É a natureza das coisas.
Folha - O sr. acredita que a atitude do Canadá em relação ao Québec é de preconceito?
Landry - Sim, porque eles tendem a concentrar especialmente em Ontário os investimentos às custas do governo federal. Não recebemos a parte que nos cabe.
Folha - E qual é a parte que cabe ao Québec?
Landry - É de 25% do orçamento, porque somos 25% da população.
Folha - As pesquisas mais recentes dão vantagem para o PQ. Mas as mesmas consultas indicam que dois terços da população não querem se separar do Canadá. Como explicar isso?
Landry - Toda eleição legislativa é o mesmo fenômeno. Quando a independência não está em jogo, as pessoas dizem que estão menos interessadas. Mas a tendência é clara. Há 30 anos, havia 30 pessoas a favor da independência. Hoje, há milhões.
Folha - O sr. acredita na vitória da soberania no plebiscito?
Landry - Claro, vamos vencer.
Folha - A que o sr. atribui o maior apoio entre os jovens?
Landry - Hoje, muitos tendem a não se considerar canadenses, mas sim do Québec.
Folha - Por quê?
Landry - Motivos históricos. Os mais velhos eram os britânicos, ligados ao Canadá e seus símbolos, porque foram os fundadores do país. Mas meus filhos nasceram }québecquois, e são }québecquois desde então.
Folha - O novo país que o sr. propõe terá bandeira, Constituição, hino nacional?
Landry - Já temos bandeira, já temos o começo da Constituição.
Folha - Já há hino nacional?
Landry - Nosso antigo hino é o próprio hino oficial, }Ó, Canadá, que demos ao país 30 anos atrás. Infelizmente, seria difícil tomá-lo de volta. Hoje, quando é tocado em francês em Toronto, é vaiado. Temos que achar um novo.
Folha - E Exército?
Landry - É claro que teremos um. No momento, o Exército canadense já está dividido entre unidades francófonas e anglófonas. As francófonas seriam a base de um Exército do Québec.
Folha - Qual será a política externa de Québec?
Landry - Em primeiro lugar, Québec não quer ser nem será uma superpotência. Sozinho, o Québec é a 20ª economia do mundo. A diferença será a influência internacional deste país.

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