São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Economia mundial não tem receita única

PAUL SAMUELSON

O ano de 1993 foi de contínua recessão. É fácil dar conselhos num ano desse tipo. Podíamos dizer com confiança, a países tão diferentes quanto a Espanha e o Japão:
1. Façam o que os EUA vêm fazendo com tanto êxito, em sua recuperação definitiva da recessão do início da década.
Tanto para a Espanha quanto para o Japão, tratava-se de uma receita de }afrouxamento monetário por parte dos bancos centrais, o Banco da Espanha e o Banco do Japão (ou seja, fim do controle rígido sobre a quantidade de moeda em circulação).
2. No caso do Japão, também era preciso um estímulo de política fiscal: uma redução acentuada nas alíquotas do Imposto de Renda, que não deve ser acompanhada no futuro próximo por mudanças compensatórias nos impostos sobre o consumo ou em gastos orçamentários.
Mas 1994 está revelando ser um ano de incipiente recuperação global. Existem indícios de que a produção está em ascensão na Alemanha, no Japão e nos vizinhos próximos da Alemanha.
Isso é um sinal positivo, sem dúvida. A Europa e o Japão precisam aumentar sua produção. É uma tragédia e um escândalo que o desemprego num país como a Espanha tenha aumentado até atingir mais de 20% da força de trabalho.
Paradoxalmente, quando o comportamento macroeconômico começa a melhorar, torna-se mais difícil para o economista cuidadoso oferecer conselhos precisos.
Uma medida que pode ajudar a Alemanha, por exemplo, pode ser inviável para a Itália ou para a Espanha. Já não existe um padrão norte-americano simples que possa ser receitado para diversas economias pelo mundo afora.
Consideremos, por exemplo, a política monetária dos bancos centrais.
Desde o início de 1994, o Federal Reserve (o banco central dos EUA) achou prudente reverter o crédito fácil e evitar o futuro aquecimento e a inflação galopante aqui nos EUA.
Pode o Banco da Itália dar-se ao luxo de elevar as taxas de juros só porque os EUA precisam fazê-lo? É evidente que não.
As taxas reais de juros italianas já estão altas e se encontram em ascensão. O novo governo italiano de direita abalou seriamente a confiança na lira.
O Banco da Itália, assim como o Banco da Suécia, sente-se forçado a elevar as taxas de juros internas numa tentativa de defender uma moeda nacional em flutuação descendente.
No ano passado, eu podia recomendar à Espanha que seguisse as políticas britânica e italiana de estímulo doméstico. Este ano, se a Espanha imitasse as políticas italianas, estaria cometendo um erro que lhe custaria caro.
É mais fácil receitar o que o Japão deveria estar fazendo do que dizer o que a Espanha deveria estar fazendo. O Japão tem espaço de manobra em nível nacional e internacional, o que lhe permite implementar uma expansão macroeconômica.
Os especialistas que estudam a economia espanhola na década de 90 concordam sobre a necessidade de reformas no mercado de trabalho do país.
Na Espanha pós-franquista, sob um austero regime socialista, o mercado de trabalho foi fragmentado em grupos desiguais de trabalhadores. Os membros de um grande grupo estão protegidos contra a demissão por seus patrões.
Este importante segmento já não possui influência para funcionar como freio aos custos salariais espanhóis, pouco competitivos.
A criação de novos empregos para esses trabalhadores protegidos se encontra, compreensivelmente, estagnada.
No outro extremo estão os trabalhadores que não têm emprego algum. Eles recebem pagamentos do Estado, de modo que também exercem uma limitada pressão descendente sobre o crescimento do índice salarial.
Resultado: a maior parte do ônus de manter a inflação espanhola nivelada com a do restante da Europa recai sobre o Banco da Espanha e sobre as autoridades orçamentárias.
Fazendo uma retrospectiva, compreendemos como um índice de desemprego de 15% se transformou num índice de 25%.
Fazendo um prognóstico, vemos como 25% podem vir a se transformar em 30% na Espanha, e isso num momento em que boa parte do resto do mundo estará vivendo um bom crescimento do nível de emprego.
Suécia

Paradoxalmente, o Estado pós-bem-estar social da Suécia revela alguma semelhança com a patologia espanhola.
Numa sociedade em que, há dez anos, um índice de desemprego de 3% teria sido considerado intolerável, o índice de desemprego atual atinge uma cifra estimada em dois algarismos. E isso em um momento em que o Banco da Suécia sente-se pressionado a elevar as taxas de juros.
Ao se refletir sobre a atual necessidade de uma diversidade na macropolítica em diferentes Estados e regiões, acho que se começa a compreender até que ponto o Tratado de Maastricht (para a unificação monetária e política da Europa) foi excessivamente ambicioso e otimista.
Ainda vai demorar o momento em que a ciência econômica poderá sancionar uma política macroeconômica comum e unificada para os principais países do mundo.
Uma programação sensata precisa partir dessa constatação.

Copyright Los Angeles Times Syndicate. Tradução de Clara Allain.

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