São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Convite a Mandela gera mortes

FERNANDO ROSSETTI
DE JOHANNESBURGO

Um caso exemplar de violência política na África do Sul ocorreu semana passada, numa disputa entre o rei zulu, Goodwill Zwelethini, e o principal representante dos zulus no governo, o ministro do Interior, Mangosuthu Buthelezi.
Há dez dias, o rei zulu convidou o presidente Nelson Mandela para participar da festa anual dos zulus, o Dia de Shaka, daqui a duas semanas em KwaZulu-Natal, Província no leste do país.
Para um ocidental, parece natural um rei convidar um presidente a uma festa. Para os zulus, não.
O rei zulu é o vínculo que seu povo tem com seus antepassados. Ele é rei exatamente porque vem da linhagem mais nobre e respeitada. Está, de certa forma, "amarrado" à linhagem.
Quem deve participar das atividades políticas do Estado sul-africano são os conselheiros do rei, como Buthelezi, considerado o "primeiro-ministro" de Zwelethini pelos zulus.
Buthelezi –que também tem grande liderança entre os zulus– não gostou da atitude "não-convencional" do rei. Tradicionalmente, é a ele que cabe convidar o presidente para o Dia de Shaka.
O ministro manifestou em rádios e TVs seu descontentamento. A Província de KwaZulu-Natal, que vivera uma semana sem assassinatos políticos, teve 15 mortes no fim-de-semana passado.
Buthelezi não pediu para ninguém matar os seguidores do rei. Simplesmente disse que estava descontente com a atitude dele.
Mas as línguas africanas são repletas de metáforas e "seus seguidores entenderam que ele estava pedindo vingança", diz o diretor do Comitê de Direitos Humanos da África do Sul, Patrick Kelly.
O rei Zwelethini busca atualmente um novo conselheiro e tem acenado na direção do príncipe Mcwayizeni Israel Zulu, inimigo de Buthelezi há 26 anos.
Essa estratégia ameaça a unidade do Partido da Liberdade Inkatha (PLI), composto majoritariamente por zulus.
Tanto Buthelezi –sobrinho do rei– como Mcwayizeni são quadros importantes do PLI. E, se a tradição for mantida, a disputa ainda vai levar muitos de seus respectivos seguidores à morte.(FR)

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