São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Social é prioridade na AL pós-inflação

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Social é prioridade
na AL pós-inflação

Os países latino-americanos representados na cúpula presidencial do Grupo do Rio, encerrada ontem, têm na derrubada da inflação um ponto em comum.
Em poucos anos, a estabilização econômica substituiu a inflação alta e generalizada. O Brasil, com o real, foi o último país a ingressar nesse clube.
O primeiro caso –e o mais espetacular– foi o da Bolívia, talvez pelo fato de ter sido o único país da região a ter experimentado a hiperinflação. Um programa de orientação liberal transformou uma taxa de cinco dígitos em algo próximo do que é típico em países industrializados.
Com a alta de 1,23% em agosto, a inflação da Bolívia acumulou 5,23% este ano e a expectativa é chegar a dezembro com 7,5%.
O caso mais citado, pela comparação que suscita com o Brasil, é o da Argentina. Pouco antes de embarcar para o Rio, o presidente Carlos Menem exibiu uma taxa de apenas 0,2% em agosto, o que eleva a taxa anual para 3,8%.
Candidato à reeleição, Menem terá o que apresentar ao eleitorado. E não se poderá dizer que o plano foi eleitoral. Desde que, há dois anos, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, atrelou o peso ao dólar, a inflação acumulada no período foi de 56%.
Outros presidentes reunidos no Rio também não estavam preocupados com a inflação. É o caso de Eduardo Frei, do Chile, que não se queixa do 1,1% registrado em agosto, o que reduziu a taxa anual de 7,9% para 6,8%.
Juan Carlos Wasmosy, do Paraguai, e Sixto Durán Ballén, do Equador, encontrarão taxa similar ao voltar para casa: em torno de 1,5% no mês passado.
Duas exceções são a Venezuela e o Uruguai, que convivem com inflações anuais acima de 40%.
No caso da Venezuela há a atitude do presidente Rafael Caldera, de marcar a diferença em relação a seu antecessor, Carlos Andres Perez, que deu início a um programa neoliberal. Desde que assumiu, em março, Caldera tem fustigado a receita neoliberal, afirmando que pode ser boa para a economia, mas não elimina a pobreza.
O presidente venezuelano não está sozinho. A preocupação com o aspecto social, principalmente depois de atingida a estabilização econômica, começa a surgir em alguns países na forma de programas que vão além da retórica.
O presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Losada, por exemplo, introduziu um programa de capitalização que pretende garantir a seguridade social com dinheiro de um programa de privatização em que o Estado cede apenas metade do controle de suas empresas.
Na mesma linha seguiu o presidente do Peru, Alberto Fujimori, que criou um fundo, chamado Foncodes, que canaliza verbas para pequenos projetos comunitários.
O Grupo do Rio tenta viabilizar investimentos que contemplem os que ficaram excluídos dos benefícios da política antiinflacionária.
Para tanto, decidiu levar à Cúpula das Américas, convocada pelo presidente Clinton para dezembro, reivindicação de financiamento de projetos de desenvolvimento.
A declaração dos presidentes pode ser entendida como o início do reconhecimento de que programas sociais são compensação necessária para a massa de trabalhadores sem qualificação que não encontra lugar numa economia comandada pelo mercado.

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