São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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A importância de reconhecer seus erros

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Será que fumar charutos, visitar Cuba e ser amigo de Fidel é suficiente para se rotular uma pessoa de atéia, materialista e comunista?
Penso que não. Da mesma forma, acho impróprio tripudiar sobre uma pessoa só porque ela, querendo relaxar um pouco, depois de tanto cansaço, tomou para si um momento para liberar idéias, dizendo o que não sentia, não queria e não podia dizer. Percebendo o erro, com sua habitual grandeza, o próprio embaixador Rubens Ricupero se desculpou perante a nação, dizendo-se envergonhado do que fez.
O que mais podemos querer? Por que tanta truculência? Está na cara. Os que insistem em tripudiar sobre a alma abatida do ex-ministro querem faturar o seu ato falho no limite máximo que a demagogia permite.
Na verdade, os políticos que assim agem têm uma história construída em cima dos erros alheios e não dos seus próprios acertos. Para engordar, eles precisam do caos da mesma forma que os vampiros precisam de sangue. No dia em que a miséria acabar e a população se educar –oxalá Deus me permita ver tudo isso– haverá pouco espaço para os que se alimentam das tragédias humanas.
É paradoxal: há pessoas que tentam construir em cima daquilo que destroem. São os falsos líderes, que pregam a democracia mas gostam da ditadura; que enaltecem o desenvolvimento mas crescem no desemprego; que demandam melhores salários mas torcem pela inflação. São os que oram pelo caos. São os monges do caos.
No momento em que se discutem os destinos da população mundial, esses monges do caos gostariam de ver a atual explosão demográfica proliferando por muitas décadas. Pelas notícias que chegaram da Conferência do Cairo, nesta semana, o nosso planeta poderá ter um cenário cinza ou negro daqui a 80 anos –nenhum róseo.
Se a taxa de fertilidade cair rapidamente como tem caído no México e Jamaica, no ano 2080, o mundo terá 10 bilhões de habitantes! Mas, se cair lentamente, como no Paraguai e Sri Lanka, seremos 23 bilhões!!!
Para os que cultivam o caos, esse segundo cenário é um prato cheio. É um excelente caldo de cultura para os que defendem o voto dos analfabetos e dos menores de idade; para os especialistas em apontar erros e os incapazes de mostrar acertos.
Vejo agora os "noviços da democracia" querendo barrar a entrada do professor Rubens Ricupero na Universidade de Brasília. Na sua conhecida truculência, eles gostariam de tê-lo como calouro –se tanto.
Esse xiitismo é como cegueira em quem se recusa a apreender a linguagem braile. Graças a Deus, ele começa a morrer. Aliás, o povo já está se manifestando para dizer que rejeita os que pregam a democracia e optam por Fidel. Os eleitores cansaram de falsas promessas. De quem fala muito e faz pouco. De quem só reúne e nunca age.
Repito: Não se pode acusar ninguém de comunista só porque gosta de Fidel Castro. Assim como não se pode acabar com um homem de bem só porque deslizou uma só vez numa brilhante carreira de 35 anos. Basta de extremismos. Vamos tratar de construir e parar de destruir.

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