São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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Travestis protestam contra mortes no Rio

Manifestação pediu proteção policial

DA SUCURSAL DO RIO

Cerca de 20 travestis fizeram manifestação ontem no centro do Rio em protestos contra assassinatos ocorridos nos últimos meses. Segundo eles, foram 22 mortes nos últimos 30 dias.
"As delegacias não apuram os crimes e a Polícia Militar não nos dá proteção. No Brasil, travesti não é cidadão", disse Jovana Baby, ou Osias da Silva, 31, líder do movimento.
Jovana preside o grupo Astral (Associação dos Travestis e Liberados do Rio), organização não-governamental fundada em maio de 92 e que congrega cerca de 280 travestis.
O grupo denuncia que turmas de jovens do centro e do Flamengo (zona sul) perseguem e matam travestis. Acusam também um ex-policial "moreno e forte" pelas mortes de três travestis nos últimos meses.
Segundo Jovana, os crimes acontecem em todas as áreas do Estado, incluindo as zonas sul, norte, oeste, centro e Baixada Fluminense. Alguns são mortos em hotéis do centro do Rio.
Após performance em frente à Secretaria Estadual de Polícia Civil (centro), uma comissão foi recebida pelo secretário Mário Covas. Ele disse não acreditar no número de óbitos alegado pelos manifestantes.
"Não morreram nem cinco. Esses números estão superdimensionados", disse Covas. Ele pediu um relatório mais detalhado ao grupo Astral para iniciar as investigações.
Covas disse, entretanto, que as gangues de jovens acusadas de perseguir os travestis começarão a ser "acompanhadas". Segundo ele, a proteção dos travestis nas ruas cabe à PM.
O deputado federal Sidney de Miguel (PV), que acompanhou os travestis na audiência, disse que vai tentar sensibilizar organismos internacionais e a Ordem dos Advogados do Brasil para as denúncias.
Pelos dados do grupo Astral, cerca de 3.000 travestis se prostituem nas ruas do Rio de Janeiro. O grupo distribui 120 camisinhas mensalmente nas áreas mais frequentadas.
"Hoje, nós temos mais medo de morrer assassinados do que de Aids. Os crimes só diminuirão se a polícia prender alguém", afirmou Jovana.

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