São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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Pantanal vive maior seca em 20 anos

PAULO YAFUSSO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORUMBÁ

A maior seca dos últimos 20 anos no Pantanal Mato-Grossense está transformando áreas antes submersas no Mato Grosso do Sul em campos de pastagens. Peixes, arraias e jacarés que viviam nas lagoas morrem por falta d'água.
Na região do Jacadigo, 40 km a sudoeste de Corumbá, 400 hectares da fazenda Olhos de Boneca, que desde 1974 tinham se transformado em uma lagoa, estão com a terra esturricada. Não chove forte há mais de três meses no Pantanal.
Sobre o solo rachado pela seca estão espalhadas centenas de carcaças de peixes como curimbatá, piauçu e pintado, além de jacarés e arraias. As lontras que viviam nessa região enfrentam o deserto no qual se transformou a lagoa à procura de uma poça d'água.
Segundo Antonio de Castro Lima, 49, administrador da fazenda Olhos de Boneca, quando os peixes começaram a morrer, há um mês, trabalhadores rurais dos assentamentos e pescadores de Corumbá passaram a pescar na lagoa que estava secando.
Lima disse que, na semana passada, mais de cem pessoas pescavam no local usando até mesmo redes –instrumento de pesca proibido no Estado. "Três pessoas chegaram a pegar 410 pintados pesando de 6 a 20 quilos", disse.
O comandante da Polícia Florestal de Corumbá, capitão Enir de Souza Júnior, afirmou que nos últimos 40 dias foram apreendidos 970 metros de rede. Ele estima que tenham sido pegos na lagoa do Jacadigo 1.200 quilos de peixes.
O capitão disse que é difícil combater a ação dos pescadores que usam apetrechos proibidos porque existem vários acessos à lagoa. Afirmou ainda que não há lei que proíba alguém de pegar os peixes com as mãos, como vinham fazendo os trabalhadores dos assentamentos da região.
Uma outra lagoa em Jacadigo é monitorada pelos pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Corumbá. O biólogo Flávio Lima Nascimento, 39, disse que se a estiagem se prolongar por mais um mês a lagoa deverá secar totalmente.
O Pantanal vive períodos de alternância de secas e enchentes a cada 15 anos, afirma o vice-presidente da Sociedade de Defesa do Pantanal, Nilson de Barros, 40. O último ciclo da seca no Pantanal teria terminado em 1974.
LEIA MAIS sobre seca à pág. 2-9

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