São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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Dólar barato

A baixa recorde do dólar nos últimos dias –atingindo a faixa de 85 a 86 centavos de real– reforçou a percepção de que as mudanças na política cambial são mais profundas do que o imaginado inicialmente. O câmbio flutuante consolida-se e parece alongar-se a perspectiva de manutenção do deságio.
A medida adotada anteontem, possibilitando que o Banco Central (BC) compre ou venda dólares mais facilmente, sinalizou que o governo pode intervir no mercado para evitar uma queda excessiva da cotação. Seu alcance, porém, é limitado, pois não se alteraram os fundamentos econômicos que causam o deságio da moeda norte-americana.
A compra de dólares pelo BC pode elevar temporariamente a taxa de câmbio e, desse modo, evitar danos maiores às exportações. Mas isso serviria apenas como paliativo enquanto providências de caráter estrutural não são adotadas, e não se modifica a legislação que tributa irracionalmente as exportações.
Hoje, um real vale mais do que um dólar porque os juros pagos na moeda nacional são muito superiores aos pagos em dólares. Assim, os que querem vender moeda norte-americana superam os que se dispõem a comprá-la –e a cotação cai. Ademais, para o mercado, uma vitória de Fernando Henrique Cardoso tende a atrair capitais, elevando ainda mais a oferta de divisas.
Caso o governo mantenha as altas taxas de juros para conter a inflação, dificilmente a oferta de dólares diminuirá rapidamente. Para reequilibrar o mercado são necessárias medidas que estimulem a demanda através de importações.
Antes da introdução da nova moeda, especulava-se se o Banco Central seria capaz de evitar que o dólar superasse a cotação de um real. Surpreendentemente, o mercado deparou-se com deságios. Agora, permanece a tendência de uma taxa de câmbio valorizada.
Nessas condições, pode-se esperar que os fluxos comerciais e financeiros do Brasil com o exterior sejam progressivamente redesenhados. Parece clara a tendência de crescimento das importações e de competição mais acirrada para os exportadores.

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