São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Reunião de petistas com ex-assessor de Collor abala o comando do PT

EUMANO SILVA ; GUSTAVO KRIEGER ; CARLOS EDUARDO ALVES
DO ENVIADO ESPECIAL E DA REPORTAGEM LOCAL

Uma conversa entre petistas e Egberto Batista, secretário de Desenvolvimento Regional durante o governo Collor, detonou uma nova crise no comando da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.
O encontro, noticiado por Joyce Pascowitch, em sua coluna na Folha na última quarta-feira, foi confirmado pelo secretário-geral do PT, Gilberto Carvalho.
Ontem, em São Luís (MA), Carvalho afirmou que o partido foi procurado por Egberto há 20 dias.
Segundo o dirigente, o ex-assessor de Collor teria oferecido consultoria à campanha petista, o que teria sido recusado pelo PT.
A afirmação de Carvalho derrubou a versão apresentada anteontem à Folha por Rui Falcão, presidente nacional do PT. "Não houve nenhuma discussão com o Egberto", disse, então, Falcão.
Carvalho e Falcão utilizaram o mesmo argumento para descartar a contratação dos serviços: a ligação do ex-secretário com Collor.
Só que o secretário do partido admitiu o encontro de petistas graduados com Egberto, embora não tenha revelado os nomes dos interlocutores, e Falcão insistiu na negativa: "Não teríamos o que conversar com Egberto".
A Folha apurou que o encontro de petistas com o ex-secretário de Collor não era do conhecimento de Lula e nem de todos os membros da coordenação de sua campanha, o que abriu um clima de desconfiança entre os responsáveis pelo planejamento da campanha petista.
Lula atribui a Egberto a divulgação do episódio Miriam Cordeiro, na campanha de 89. Miriam, ex-namorada de Lula, foi ao programa de TV de Collor para acusar o petista de ter recomendado um aborto para tentar evitar o nascimento de Luriam, filha reconhecida pelo candidato.
No início da corrida eleitoral, Egberto enviou a todos os presidenciáveis um projeto de campanha que repetia a estrutura usada por Collor em 89. Lula descartou qualquer entendimento com ele.
Após a conversa com Egberto, o PT decidiu não aproveitar o plano de campanha proposto. A razão da recusa não foi qualquer restrição ideológica ao possível contratado.
O projeto de Egberto não poderia ser viabilizado pelo PT por falta de dinheiro. A análise petista apontou que nenhum partido teria condições de bancar os custos das idéias do ex-secretário collorido.
A mesma análise foi feita por outros partidos. Egberto apresentou seu projeto de campanha a todos os possíveis candidatos à Presidência, ainda em 1993. Nenhum partido ou coligação aceitou bancar os custos propostos por ele.
Egberto negou qualquer contato com a direção do PT. "Não conheço Lula nem Gilberto Carvalho. Mandamos o nosso projeto de campanha a Lula em 93, como mandamos para todos os candidatos. Não houve negociação".
O ex-assessor de Collor disse que "faz questão" de negar qualquer acordo com o PT. "Eu não saberia nem mesmo como me dirigir ao comando da campanha de Lula", afirmou.
Egberto desafia Gilberto Carvalho a identificar os petistas a quem ele teria procurado para oferecer assessoria: "Isto nunca ocorreu". Eumano Silva, Gustavo Krieger e Carlos Eduardo Alve

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