São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Agricultura colhe US$ 2 bi a mais em 94

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Após cinco anos de "vacas magras", a agricultura brasileira ganhou folêgo este ano, favorecida pela recuperação dos preços agrícolas no primeiro semestre (principalmente soja e café) e também pelo crescimento da produtividade.
O valor da produção agrícola este ano, segundo projeção do economista Fernando Homem de Melo (Fipe-USP), deve chegar a US$ 23,163 bilhões, resultado 9,5% superior ao de 1993 (veja quadro ao lado).
"É o melhor desempenho desde 90", diz o economista. A pesquisa, que abrange 19 produtos, foi feita com base nos precos médios recebidos pelos produtores nos primeiros seis meses (93 e 94) e utilizou a taxa de câmbio média do primeiro semestre de 94.
O aumento da receita agrícola, avaliado em US$ 2,005 bilhões, conseguiu reanimar o mercado de insumos.
O faturamento da indústria de agrotóxicos cresceu 14,6% no período de janeiro a julho (US$ 538,6 milhões, contra US$ 469,8 milhões em 93).
"Os agricultores este ano estão mais capitalizados e boa parte deles pode até dispensar o crédito rural e plantar a próxima safra com recursos próprios", diz Fernando Homem de Melo.
"Pode ser o fim da crise no campo, iniciada com o Plano Cruzado, mas só para a parcela dos agricultores de mercado", diz Roberto Rodrigues, presidente da Sociedade Rural Brasileira.
Para Rodrigues, a agricultura de mercado se virou como pôde e conseguiu sobreviver à crise. "Estes agricultores se auto-financiaram, conseguiram se capitalizar e agora não dependem mais da política agrícola do governo", diz.
Mas, na opinião de Rodrigues, dois grandes grupos da agricultura brasileira ainda dependem da política oficial para sobreviver.
"Existe uma agricultura marginal, que passa fome e outra, de transição, que melhorou este ano, mas continua endividada nos bancos", diz ele.
Safra 95
A queda dos preços da soja no mercado internacional, por conta da boa produção dos EUA, e os efeitos do Plano Real devem alterar o perfil da próxima safra de grãos.
"Se a inflação continuar baixa e o Real conseguir de fato aumentar o poder aquisitivo da população, a agricultura vai mudar de rota e se voltar novamente para o mercado interno", prevê Homem de Melo.
Segundo o economista, a defasagem cambial, que já acumula entre 20% e 25% desde a entrada da nova moeda, está prejudicando as exportações agrícolas e deve provocar a redução do plantio de soja na nova safra.
Na região sul do país, a tendência é de o milho ocupar boa parte da área antes destinada à soja.
Insumo básico para a produção de aves, suínos e bovinos, o milho tende a se valorizar, caso a demanda por carnes continuar crescendo.
Já na região Centro-Oeste, o declínio da soja não será tão acentuado, uma vez que o produto está ancorado na política de preços mínimos garantidos pelo governo.
A falta de um horizonte mais definido e o prolongamento da seca na região Centro-Sul inibiram as vendas de fertilizantes e agrotóxicos nos últimos dias.

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