São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Triângulo amoroso ganha versão moralista

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Três Formas de Amar
Diretor: Andrew Fleming
Elenco: Lara Flynn Boyle, Stephen Baldwin e Josh Charles
Salas: Paulista 4, Lumière, Olido 1, West Plaza 2

É difícil não pensar no cinema francês ao assistir a "Três Formas de Amar" ("Threesome"), de Andrew Fleming. No bom cinema francês, é claro –e saudosamente.
Não apenas porque Eddy (Josh Charles), um dos três protagonistas do triângulo amoroso da história, frequenta um curso sobre o cinema francês na universidade, mas pela tentativa de fazer deste filme um "Jules e Jim" grosseiramente pragmático.
Os americanos costumam ir para as universidades com sexo na cabeça. O campus costuma funcionar como uma espécie de paraíso para quem passou a adolescência sob a vigilância familiar –e, aliás, não faltam referências a mensagens de Deus, Adão e Eva nos diálogos do filme.
"Três Formas de Amar" é a história de dois rapazes e uma moça (Stephen Baldwin e Lara Flynn Boyle compõem os dois outros vértices do triângulo) que se encontram num campus e estabelecem uma espécie de relação afetiva, obcecados pelo próprio órgão sexual (Stuart) ou pela consumação do ato (Alex e Eddy).
À diferença do bom cinema francês, onde as relações amorosas a três colocam muitas vezes em cena uma carga emocional extraordinária dos personagens (o belo filme de André Téchiné, "As Rosas Selvagens", exibido na Mostra Banco Nacional, apenas no Rio, é um bom exemplo recente), os protagonistas de "Três Formas de Amar" são grossos e primários.
Não podiam ser de outra forma. O triângulo amoroso aqui é coisa prática, mais prática que reflexiva. Não há romance –os sentimentos são rasos. Há uma obsessão sexual quase infantil (o humor também é infantil), sem muita sedução –e sobretudo sem grandes prazeres ou gozos. Tudo é médio e morno, como a personalidade dos protagonistas.
A platitude dos personagens pode ser aferida, por exemplo, na lição de moral que Eddy, o membro gay do triângulo, tira finalmente de "Jules e Jim", de François Truffaut: "dois é bom; três é patético".

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