São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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EUA oferecem exílio aos militares

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Os EUA estão oferecendo aos líderes militares do Haiti a possibilidade de deixarem o país e se exilarem em segurança.
A informação, publicada na edição de ontem do jornal "The New York Times", foi confirmada pelo secretário da Defesa, William Perry, e pela porta-voz da Casa Branca, Dee Dee Myers.
Ambos negaram, porém, que os Estados Unidos estivessem se propondo a "pagar" pela saída dos militares haitianos.
Segundo o "Times", a oferta inclui transporte, vistos, segurança no exílio e assistência para que eles possam ter acesso a suas contas congeladas no exterior.
Enquanto o presidente Bill Clinton se preparava para discursar ao país em rede nacional de TV a partir das 21h (22h em Brasília), várias autoridades de seu governo diziam esperar que a invasão do Haiti ainda pode ser evitada se os militares desistirem do poder logo.
No discurso, Clinton comunicaria ao público o compromisso que recebeu ontem do presidente do Haiti no exílio.
Jean-Bertrand Aristide disse que cumpriria apenas o que lhe resta do seu mandato não-exercido e entregaria o poder em janeiro de 1996 a um sucessor democraticamente eleito.
Clinton passou o dia na Casa Branca reunido com assessores, contrariando sua rotina que sempre inclui diversas aparições públicas.
No único momento em que foi visto por jornalistas, caminhando no terraço de seu escritório com um dos assessores, o presidente não respondeu a perguntas que lhe foram gritadas.
Na quarta-feira, ele chamou representantes das principais agências de notícias dos EUA e ofereceu prévia do discurso de ontem.
Ele mostrou aos jornalistas fotos para provar atrocidades cometidas pelo governo militar haitiano e demonstrou indignação.
"Este é o mais brutal, mais violento regime em qualquer lugar deste hemisfério. Temos exemplos de assassinatos de órfãos, de padres, desmembramentos de corpos de perseguidos políticos. Não é possível tolerar isso."
Além do desrespeito aos direitos humanos, Clinton deu outros argumentos para a invasão: a explosão da emigração de haitianos em direção aos EUA se o regime militar for mantido, a segurança de 3.500 cidadãos norte-americanos que vivem no Haiti, a credibilidade internacional dos EUA, ameaçada depois de três anos de pressões infrutíferas contra o Haiti.
"Sei que a maioria da opinião pública está contra mim. Mas às vezes o presidente precisa fazer o que é certo, apesar das consequências", disse Clinton.
A porta-voz Dee Dee Myers afirmou que ele não esperava mudar o sentimento do público contra a invasão com o discurso de ontem, mas apenas "apresentar os seus motivos" para a decisão.

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