São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Governo militar desafia EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Em seus pronunciamentos oficiais, os líderes do governo militar do Haiti continuavam ontem a desafiar as ameaças dos EUA.
Mas aumentam os rumores de que eles poderão deixar o poder para evitar o confronto armado.
O presidente formal do Haiti, Emile Jonassaint, 82, discursou ao país anteontem e disse que seu governo "continuará a cumprir sua missão e não falhará na tarefa de defender a república".
Depois de ter lido em francês um texto preparado antes, passou a falar de improviso em creole, a língua da maioria da população, e afirmou: "Não estamos sós. Muita gente vai se surpreender aqui".
O homem-forte do governo, general Raoul Cedras, disse ao jornalista Dan Rather, da rede CBS, que está preparado para deixar o país "sob certas condições".
Mas Cedras alertou: "Se eu partir, haverá uma longa guerra civil e muito derramamento de sangue". Cedras recusou também a possibilidade de levar "uma vida confortável no exílio".
A capital do Haiti, Porto Príncipe, está sob toque de recolher entre 19h e 7h. Nos demais horários, a atividade é normal e, pelos relatos dos jornalistas americanos que lá estão, o clima é de calma.
secretário da Defesa dos EUA, William Perry, comentou ter ouvido que há "confusão" no governo militar haitiano. Correm rumores de que subordinados de Cedras tentam forçá-lo a partir para evitar mortandade.
A polícia do Haiti tem ordens de prender as pesssoas que apanharem panfletos atirados por aviões dos EUA anunciando a volta ao poder do presidente no exílio Jean-Bertrand Aristide.
Todas as redes de TV e os mais importantes jornais dos EUA já estão com seus repórteres no Haiti, à espera das tropas de seu país.
Desde a invasão de Granada em 1983, o Pentágono tem impedido jornalistas de acompanharem os soldados até haver condições de segurança.
Na Somália, em 1992, repórteres se adiantaram e foram para Mogadício antes da invasão ocorrer. Quando o desembarque dos soldados aconteceu, os únicos "inimigos" pela frente foram as câmeras de jornalistas.(CELS)

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