São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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SP e Rio têm momento de bairrismo fashion

JACKSON ARAUJO
ERIKA PALOMINO

JACKSON ARAUJO; ERIKA PALOMINO
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

A febre de desfiles de moda no Brasil vivencia no momento curiosa divisão. Que pode até ser chamada de disputa. De um lado, os desfiles-espetáculos de São Paulo, seu público descolado e o circo de badalação em torno de seus participantes. Do outro, o despojamento carioca, que valoriza a exibição das roupas em lugar de artifícios de montagens (leia abaixo).
Esta semana, na última quarta, outro round da batalha cidade contra cidade. A Mesbla contratou em São Paulo o diretor de desfiles Paulo Borges, que, por sua vez, arrastou uma estrutura composta por cinco produtores (executivos e de moda), 21 camareiras, oito profissionais de cabelo e maquiagem, um diretor de luz, um DJ e ainda 40 modelos.
Também para o desfile da Benetton, em outubro, o diretor paulistano Pazetto leva seus cinco coordenadores. "Não é por nada. É que esta é minha primeira vez no Rio; prefiro ter segurança."
Para mapear as diferenças e semelhanças das duas praças, Atitude ouviu profissionais do setor. A carioca Iesa Rodrigues, 37, editora de moda do "Jornal do Brasil", acha que "a montagem de desfiles em São Paulo é mais complicada, dá mais valor ao aspecto festa. No Rio, a roupa e o estilista são mais importantes, as modelos são conhecidas por todo mundo".
Concorda a modelo carioca Adriana Mattoso, 29, que costuma trabalhar nas duas cidades: "O Rio é mais relax. E eu sempre ouço que as modelos cariocas são mais espontâneas."
O espírito paulista vem resumido na fala da diretora de redação da revista "Marie Claire", Mônica Serino, 41: "Desfile tem que ser um show. E um bom show não precisa ser longo. Fico cansada vendo muitas roupas na passarela; não é preciso desfilar todas as peças da coleção", esbraveja. Algumas apreentações da Semana de Estilo Leslie/Helena Rubinstein, o principal evento de lançamentos do Rio, bateram 50 minutos.
Mas São Paulo já influencia os desfiles cariocas sob alguns aspectos. A começar pela busca de locais inusitados ou nunca usados. A Blue Man, por exemplo, mostra seu verão nesta segunda-feira dentro da piscina (vazia, evidentemente) do hotel Copacabana Palace. O público assiste tudo da luxuosa pérgola do local. Semana passada, a Beneducci apresentou sua coleção num casarão no arborizado bairro do Jardim Botânico. Já os eventos Leslie/Rubinstein aconteceram em cinco salas diferentes no Museu Nacional de Belas Artes. Glorioso, mas tão ou mais calorento que o Phytoervas Fashion 94.
Em São Paulo, já desde a última temporada de lançamentos de inverno a procura de locações ocorre quase em esquema de gincana. Vence quem achar o lugar mais inesperado ou grandioso.
Assim, já foram usados desde fábricas e galpões, passando por clubes de sociedade e colégios, até a desativada estação ferroviária do bairro do Pari (região central da cidade) ou o mega-salão da estação Julio Prestes (também no centro).
Outro aspecto adotado no Rio é a presença de convidados especiais e artistas na passarela, garantia quase 100% de espaço na mídia. Em São Paulo, este hype explodiu em fevereiro último, com o desfile de inverno da marca masculina Bavardage, que pôs em cena com suas roupas um insólito rol de personalidades como o arquiteto Arthur de Mattos Casas e os encenadores Gerald Thomas e José Celso Martinez Corrêa.
Também já frequentaram as passarelas paulistanas as atrizes Julia Lemmertz, Fernanda Torres, Carolina Ferraz, Luciana Vendramini, Christiane Tricerri e Luiza Brunet; os atores Mauricio Branco, Marcio Garcia (também VJ da MTV) e Paulo Gandolfi.
No Rio, para se ter uma idéia, foi a performance da atriz Camila Pitanga em janeiro no desfile da marca Sucumbe a Cólera que a lançou ao posto de "musa do verão". Nesta temporada, desfilaram na Leslie/Helena Rubinstein a cantora Paula Toller, o ator Marcos Winter, a própria Pitanga, até os badalados promoters das festas ValDemente Valeria Braga e Fabio Monteiro. Sem falar das sempre populares Silvia Pfeifer, Betty Lago e Alexia Deschamps.
Quanto ao público do Rio, ainda é tímido o aparecimento das celebridades. A promoter carioca Liège Monteiro, 37, reclama: "São Paulo é o máximo em termos de presenças confirmadas. No Rio, as pessoas importantes não confirmam e, quando confirmam, não vêm." Por aqui, basta abrir qualquer coluna social e conferir.

A jornalista ERIKA PALOMINO viajou ao Rio a convite de Leslie/Helena Rubinstein. JACKSON ARAUJO, free-lance para a Folha, viajou a convite da Mesbla

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