São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994 |
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Intervenção infeliz A intervenção do governo na negociação salarial entre metalúrgicos e empresários do ABCD mostrou-se inconveniente e contraproducente. Ao tentar impedir o acordo em andamento, o recém-empossado ministro Ciro Gomes acabou favorecendo o início da greve. Ao retirar-se das negociações, não conseguiu evitar que continuassem as demandas salariais. Em meio a um processo de estabilização ainda não consolidado, é natural que aumentos de preços e salários atraiam especial atenção da sociedade e do governo. Impedir que a economia volte a se indexar, sem dúvida, faz parte do combate à inflação. Mas a atuação do Estado nesse sentido está forçosamente limitada ao estabelecimento de condições de caráter geral –de preferência, as mais desregulamentadas possíveis. Interferir diretamente nas tratativas de empresas e sindicatos não compete ao governo, pois contraria o espírito de livre negociação almejado. A intervenção da administração federal causou somente turbulência em um processo que, afinal, voltou a ser protagonizado apenas por empresários e trabalhadores. Há tempos que a legislação trabalhista brasileira está superada. O desenrolar dos fatos do ABCD paulista veio apenas reforçar a necessidade de liberalizar os processos de negociação. Os contratos coletivos de trabalho, nos quais as demandas de parte a parte podem ser tratadas de forma mais flexível, permitem que se estabeleçam condições adequadas à realidade particular de cada setor ou empresa. O insucesso da intervenção governamental, entretanto, não significa que a greve do setor metalúrgico e seus possíveis resultados possam ser ignorados. Independentemente da legitimidade das razões dos trabalhadores e das empresas, sobre ambos pesa a responsabilidade de evitar regras de correção automática de salários. Longos anos de altíssima inflação já demonstraram que a indexação não é mecanismo capaz de proteger o valor real dos rendimentos. Ao contrário, ela gera uma espiral de preços que corrói o poder de compra dos trabalhadores. Texto Anterior: Por que o Haiti? Próximo Texto: A história oficial Índice |
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