São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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TRT acata plano e veta abono e reajuste por IPC-r

DA REPORTAGEM LOCAL

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo considerou não abusiva a greve dos metalúrgicos do ABCD do setor de autopeças. Apesar disso, o TRT sinalizou, durante o julgamento ontem à tarde, que vai seguir as determinações do governo sobre o Plano Real.
Nenhum pedido de ganho salarial foi aceito pelo TRT. O Tribunal rejeitou a extensão –aos metalúrgicos de autopeças– do abono de 59 horas e meia acertado entre as montadoras de veículos e os metalúrgicos, o aumento salarial de 11,87% (IPC-r de julho e agosto) e a antecipação da data-base da categoria (de abril para novembro).
O juiz José Victorio Moro, que presidiu o julgamento da greve, deixou claro que com o Plano Real não se pode manter a cláusula da convenção coletiva que prevê aumento mensal de salário com base na inflação do mês anterior.
"O Tribunal não deve contribuir para o aumento da inflação. Já ficou provado que reindexação não dá certo", advertiu Moro. Entretanto, ele disse que se hoje o TRT pensa assim, mudará de idéia no futuro se a inflação voltar aos níveis anteriores ao plano.
O TRT decidiu que os dias parados não devem ser descontados, desde que os trabalhadores compensem as horas (duas por dia e máximo de dez por semana), e concedeu estabilidade de 60 dias, condicionada ao retorno hoje ao trabalho.
Após o julgamento, o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, informou que a greve vai continuar apesar da decisão do TRT. "A decisão do Tribunal não muda nada para nós", disse.
"O sindicato vai defender a manutenção da greve, mas a decisão final é dos trabalhadores. A partir do julgamento de hoje (ontem), esperamos que ocorram negociações por empresa, em separado", afirmou Marinho.
Hoje pela manhã o sindicato realizará assembléias em cada uma das empresas em greve para ver o que os trabalhadores decidem. Estão em greve a Maxion, Metal Leve, Carfriz, Sachs, Liebau, Polimatic e Arteb (a Inca retornou ao trabalho ontem). Ainda há cerca de 8 mil metalúrgicos parados. A greve começou no dia 12 deste mês.
O diretor de relações trabalhistas do Sindipeças (sindicato das indústrias de autopeças), Wilson Começanha, disse que "poderemos conversar se os trabalhadores voltarem ao trabalho". Mas ressaltou que "não estou admitindo a negociação".
Para o diretor do Sindipeças, a continuidade da greve não ajuda em nada, pois não haverá negociação nem aumento. "O Sindipeças vai obedecer a decisão das empresas. Se elas decidirem dar aumento não podemos ir contra", disse Começanha.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD está tentando negociar acordo com cada empresa do setor de autopeças. Até ontem nenhuma das empresas em greve cederam às pressões do sindicato.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, Heiguiberto Navarro, o Guiba, disse que as empresas de autopeças têm dinheiro para pagar o reajuste.
"Eles cresceram 12,5% no ano passado e tiveram um grande aumento nas exportações", disse Guiba.

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