São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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PFL poderia sair 'mais caro', diz FHC

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O presidenciável tucano Fernando Henrique Cardoso disse ontem que custaria mais "caro" ao seu eventual governo um acordo com o PFL após às eleições.
"Precisei fazer a aliança antes porque, depois, ia custar mais caro no Congresso", disse FHC ao explicar o motivo da aliança com o PFL para cerca de 80 artistas que se reuniram com ele à noite.
Depois do encontro, na casa da cantora Olívia Byington, no Alto da Gávea, zona sul do Rio, FHC confirmou que o "caro" citado por ele se referia à distribuição de cargos no governo.
"O sentido é esse mesmo", disse. "Precisaria distribuir posições no governo, coisa que eu não quero", declarou. Mas FHC também defendeu o PFL.
"O PFL virou uma Geni", afirmou. "Como se os outros partidos não fossem iguais". Para ele, só existem dois partidos no país -o PT e o PSDB.
O encontro de FHC com artistas começou às 19h20. A coordenação do encontro havia divulgado uma lista com o nome de 154 artistas. Mas pouco mais da metade compareceu.
Estrelas de maior peso que eram esperadas e cujos nomes constavam da lista não compareceram. Foi o caso de Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Elba Ramalho. Tom Jobim disse, brincando, que ia votar em Rubens Ricupero e Bill Clinton para vice.
A atriz Regina Duarte chegou dizendo ser "Fernandete" há muito tempo. Ela leu um fax do escritor Jorge Amado, que estava em Paris, manifestando apoio a FHC.
A atriz Dercy Gonçalves provocou risos ao chegar e ao sair. "Vocês acham que eu estou aqui para apoiar o Lula, seus porra?", indagou ao chegar. Na saída, disse ter gostado do discurso de FHC: "Porra, foi uma beleza".
O poeta Ferreira Gullar usou uma comparação curiosa para explicar seu apoio a FHC e à sua aliança com o PFL. "Eu que escrevi o "Poema Sujo", como é que vou querer pureza em política?", perguntou.
Gullar se referia a um longo poema seu, em que trabalha com citações de versos de vários outros poetas, com acento especial no uso de palavrões, daí a noção de "sujo", isto é, que não está livre de influências ou de palavras proibidas pelo chamado bom-gosto.
Os mais notáveis da reunião eram Nana Caymmi, Norma Bengell, João Bosco, Mauro Mendonça, Lúcia Veríssimo, Elza Soares, Peri Ribeiro, Bibi Ferreira, Marco Nanini, Cacá Diegues, Dias Gomes, dona Zica e dona Neuma da Mangueira.
FHC falou por 40 minutos e foi aplaudido no final. Ele culpou o regime militar pelo atraso da cultura no país. "O poder ficou triste no Brasil. O Estado rompeu com a sociedade", disse.

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