São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Líder é condenado a 20 anos de prisão

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Gengis Keine de Brito, 19, foi condenado ontem a 20 anos de prisão pelo assassinato do estudante Marco Antônio Velasco, em agosto de 93. O julgamento durou 29 horas.
Apontado como líder da gangue Falange Satânica que matou o estudante, ele foi considerado culpado nos crimes de homicídio triplamente qualificado e corrupção de menores.
No homicídio, o júri popular culpou Gengis Keine por ter agido por vingança, organizar o crime e por matar sem que a vítima pudesse se defender.
Gengis Keine vai ter que pagar multa de dois salários mínimos, em valores da época do crime. A defesa vai recorrer da sentença.
Marco Antônio, 16, ia comprar pão na companhia de amigos quando foi atacado por 11 rapazes da Falange Satânica. No dia anterior, ele discutiu na porta do colégio com alguns rapazes da gangue.
Seis acusados (quatro menores de idade) já foram julgados e condenados. Gengis Keine foi o único dos culpados a confessar o crime em depoimento à polícia.
Por ser réu primário, estar preso há um ano à espera do julgamento e ter bons antecedentes, a pena de Gengis Keine pode ser reduzida a dez anos. Se ele tiver bom comportamento na prisão, ficará preso até completar 27 anos.
O julgamento começou às 9h de segunda-feira. Até a leitura da sentença, às 13h45 de ontem, as famílias de Gengis Keine e de Marco Antônio não deixaram o fórum do Tribunal de Justiça do DF.
Ao meio-dia, o advogado de defesa, Safe Carneiro, já dava entrevistas sobre a condenação, "Eu errei, meu trabalho não foi bom."
A defesa disse que Gengis Keine não teve a intenção de matar. "Ele só queria bater", disse Safe Carneiro. O argumento foi rebatido, "então absolve-se quem não quer matar, só estuprar", disse o advogado Francisco Leite.
A acusação sustentou que a absolvição de Gengis Keine "vai terminar com a possibilidade de ser adolescente em Brasília". A impunidade seria a garantia das gangues para continuar cometendo crimes como o que matou Marco Antônio.
O depoimento de Gengis Keine à juíza Sandra de Santis Mello foi desastroso. Ele se contradisse várias vezes e negou o depoimento espontâneo –confirmando sua culpa– à polícia.
A acusação ficou satisfeita com o resultado do julgamento, apesar de ter pedido para Gengis Keine a pena máxima (30 anos). Se ele tivesse sido condenado a 20 anos, em um só crime, a defesa teria direito a um novo júri.
A mãe de Marco Antônio, Valéria Velasco, disse que vai recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que todos os responsáveis pelo crime sejam enquadrados na nova lei dos crimes hediondos.
A lei, sancionada no início deste mês, prevê o cumprimento mínimo de dois terços da pena e perda de todas as regalias garantidas. Mas só vale para crimes cometidos após a sanção da legislação.
No dia 29, serão julgados Luciano Pinheiro, 21, e Francisco Rivelino, 22. A defesa vai tentar desmembrar o julgamento e ouvir apenas um acusado por vez.

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