São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Ídolo

THALES DE MENEZES
QUANDO ALGUÉM BACANA MORRE, A GENTE FICA MUITO TRISTE.

Vitas Gerulaitis era bacana. Jogava bem, num estilo clássico em que sabia aproveitar sua velocidade natural. E, principalmente, tinha uma atitude sempre simpática dentro da quadra.
Quando Gerulaitis veio ao Brasil em 1980, para uma partida de exibição contra o sueco Bjorn Borg no ginásio do Ibirapuera, conquistou alguns fãs antes mesmo do jogo começar.
Poucas horas antes da partida, Gerulaitis estava no ginásio, para reconhecer a quadra. Apareceu para bater bola com o sueco Peter qualquer coisa, um juvenil que era parceiro constante de Borg. Em volta da quadra, um público composto de funcionários do ginásio, repórteres e alguns garotos tenistas que driblaram a vigilância dos organizadores.
Os fotógrafos registravam a movimentação do tenista, mas os repórteres esperavam o término do treino para se aproximar e entrevistá-lo. Mais desinibidos, os garotos começaram a tentar falar com o jogador, que dava risada com o inglês sofrível dos fãs.
Não demorou muito e Gerulaitis chegou próximo aos jovens. Deu autógrafos e começou a conversar. Um dos garotos era o melhorzinho no inglês e segurava as pontas como intérprete. Para eles, Gerulaitis falou que gostava de Thomas Koch e era amigo de Carlos Alberto Kirmayr. Disse que achou São Paulo uma cidade feia e queria conhecer as praias brasileiras.
No meio desse papo de turista, chegou Borg. O sueco, já pentacampeão de Wimbledon, atraiu repórteres e fotógrafos. Gerulaitis voltou para a quadra e os dois passaram a trocar bolas.
Eram muito diferentes. Borg estava sério e silencioso. Gerulaitis falava como um papagaio. Parecia que tentava fazer Borg conversar com ele, mas o sueco se limitava a acenar com a cabeça.
Depois de uns 15 minutos, resolveram encerrar o treino. Borg parou para dar autógrafos aos garotos. Assinou apenas dois papéis, tempo suficiente para que os fotógrafos flagrassem o assédio dos fãs. Depois o sueco saiu rápido, deixando os garotos na mão.
Gerulaitis voltou a conversar com eles. No fim, pegou as bolinhas usadas por ele e Borg no treino e distribuiu para a garotada.
À noite, Gerulaitis perdeu a partida em dois sets, mas deixou mais alguns fãs em São Paulo.
P.S.: A bolinha usada por Gerulaitis está guardada numa caixa de sapatos na casa da minha mãe.

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