São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Entre o delírio e o oportunismo

JOSÉ ANÍBAL

O vereador paulistano Marcos Cintra, cuja saída da Secretaria Municipal do Planejamento ainda não foi devidamente explicada, contribuiu com sua dose de lama para baixar o nível da campanha eleitoral.
Em artigo na Folha de 19/09 ("FHC-Munhoz, a escola coerente"), Cintra –sob o pretexto de avaliar danos causados por alguns episódios às candidaturas de Fernando Henrique e Mário Covas– reproduz acusações a Covas, com o propósito de prestar serviço ao candidato a governador de Quércia e Fleury.
O Cintra-escriba inventa (como "inventou" o imposto único que lhe rendeu a vereança) uma chapa eleitoral de ocasião na tentativa de unir contrários (atenção, Cintra agora é candidato a deputado federal).
Para qualificar seu candidato a governador, ele o vê impulsionado por amplo arco de alianças políticas. Não se preocupa em mencioná-la, porque o que é fruto do delírio só é visto por quem o tem. Até o PTB, partido de origem do sr. Munhoz, já declarou publicamente, através de sua direção local, em reunião na sede do PSDB, apoio à candidatura de Mário Covas.
Além do mais, quem tem, como Covas, a preferência consistente de mais da metade dos eleitores que já manifestaram seu voto, não só é apoiado por um amplo arco de forças políticas como também de forças sociais. Isto, apesar de todos sabermos a serviço de quem está a máquina do Estado.
Se o sr. Cintra –que, no artigo citado, se desdobra em elogios a Fernando Henrique– quisesse mesmo apoiar o candidato presidencial tucano, o mínimo que deveria fazer é seguir seu voto para governador de São Paulo. Fernando Henrique não apenas vota, mas apóia e faz campanha junto com Mário Covas.
Ardoroso defensor da candidatura de Fernando Henrique a presidente, o senador Covas foi seu grande companheiro no Congresso para a aprovação do programa econômico e sua sustentação política. Isto, num momento em que o sr. Cintra, nesta Folha, colocava em dúvida a consistência do programa que agora elogia.
Caroneiro? Seja bem-vindo, mas lembremos a citação bíblica. Do jeito que vai, o vereador quer servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ou serão três? Ou mesmo quatro, se consideradas suas curiosas preferências políticas que juntam Maluf, Quércia, Fleury e Munhoz?
Talvez nesse frenesi de agradar a toda essa gente esteja a explicação para o aranzel de sandices que Cintra produziu sobre Mário Covas. Ele fez, em resumo, eco a acusações repetidas, irresponsáveis e não-comprovadas, originárias do submundo da campanha eleitoral.
Atenção, vereador, o candidato Medeiros caiu um pouco mais nas pesquisas depois que, incapaz de propor o que quer que seja ao eleitor de São Paulo, andou patrocinando estas acusações.
Cintra sabe, até porque é rápido, que os índices de preferência dos cidadãos e cidadãs de São Paulo por Covas refletem a confiança numa proposta de governo bem articulada, em sintonia com o projeto para o Brasil representado pela candidatura de Fernando Henrique. Uma confiança baseada, sobretudo, numa biografia política limpa, séria e competente.
Covas, como governador, vai administrar São Paulo com austeridade e competência, único modo de recuperar o Estado do desastre político e administrativo em que se encontra, com a co-autoria do sr. Barros Munhoz.
Embora esteja convencido de que a proposta do sr. Cintra quanto ao imposto único não tem nenhuma consistência e, entre outras coisas, faz a alegria de quem quer sancionar a sonegação e a evasão fiscal, vou deixar para cuidar dela no momento oportuno, quando for feita a reforma tributária.
De qualquer modo, ela parece que já é insuficiente para garanti-lo no seu atual projeto político-eleitoral.
Apesar disso, Cintra deveria escolher um caminho mais compatível com os tempos que estamos vivendo, pois, como diz o senador Mário Covas, a honestidade faz a diferença. O eleitor sabe disso.

Próximo Texto: PT-PSDB, a concretização de um sonho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.